Carolina Heringer
No próximo concurso para oficiais da Polícia Militar do Rio, marcado para o fim deste ano, a corporação fará uma alteração inédita na forma de ingresso: será estabelecida uma cota, provavelmente de 20% das vagas, para os praças da PM.
O objetivo da iniciativa, garantida pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, é, no futuro, estabelecer uma entrada única na corporação. Hoje, há duas formas de ingresso: uma para praças (começando em soldado, e depois cabo, sargento e subtenente) e outra para oficiais (começando como tenente, e em seguida capitão, major, tenente-coronel e coronel).
Beltrame: o maior patrimônio da Polícia Militar é o policial Foto: Fabiano Rocha / Extra / 11.5.2012
Para Beltrame, a novidade de destinar parte das vagas para os praças é fundamental para estimular os PMs.
— A Polícia Militar sabe que seu maior patrimônio são os policiais, seus recursos humanos, e está sempre buscando novas formas de valorizar esses profissionais — afirma o secretário.
Um grupo de trabalho ainda estuda os detalhes dos critérios de seleção do curso de formação para oficiais nesse novo modelo. Certo, por enquanto, é que os candidatos cotistas precisarão, claro, ser praças da PM e ter o ensino médio completo.
— Esse sistema misto de ingresso é uma das estratégias pensadas para preparar a instituição para esse ingresso único. Hoje, são duas carreiras distintas. A ideia é que um policial que entre como soldado possa chegar a coronel, passando por todos os estágios da carreira — explica Juliana Barroso, subsecretária de Educação, Valorização e Prevenção (SSEVP) da Secretaria de Segurança.
Ainda estão sendo definidas também as alterações que serão feitas no curso que já existe. Quem criou o grupo de estudos foi o coronel Robson Rodrigues, que foi comandante das UPPs e hoje é chefe do Estado Maior Administrativo da PM.
Graduação em Segurança Pública
Os praças da PM que não conseguirem — ou não quiserem — prestar concurso para oficial, terão ainda a possibilidade de fazer uma graduação em Tecnologia em Segurança Pública, de graça, na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Por meio de um convênio fechado entre a Secretaria de Segurança, a UFF e a Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), 80% das vagas abertas no próximo vestibular para o curso serão destinadas não só a policiais militares, mas também para os policiais civis.
As inscrições da primeira turma começam em abril e serão feitas pela Cecierj. O vestibular será em julho, e as aulas do curso, que tem duração de dois anos e meio, começam em agosto.
Para se adequar à rotina dos policiais, as aulas são quase todas a distância. Os encontros são apenas para provas e dúvidas.
As disciplinas estudadas no curso são fundamentadas nos “princípios da cidadania, dos direitos humanos e da cultura da paz”: a noção de comunidade e modelos de polícia, estatística aplicada à Segurança Pública e Sociologia do crime e da violência são algumas delas.
— Queremos contribuir para a formação desses policiais e estimular uma reflexão crítica e a criação de políticas de segurança. O objetivo é aproximar o policial da ética, estimulá-lo a ter uma referência, mostrando inclusive os limites de sua atuação — explica Melissa Pongeluppi, Superintendente de Educação da subsecretaria.
Entrevista - José Mariano Beltrame
Qual é a importância de dar a possibilidade para que praças tornem-se oficiais?
É a abertura de mais uma possibilidade de crescimento na carreira para os policiais. Hoje, estamos com um número cada vez maior de praças que já chegam com curso superior, completo ou ainda cursando, e percebemos que aumentou o número de soldados que querem mais oportunidades para ascender profissionalmente na própria PM.
Essa nova possibilidade ajuda a evitar casos de corrupção na corporação?
Uma das coisas que costumam levar jovens e adultos para o mau caminho é justamente a falta de perspectivas. Eu acredito que, quando aumentamos as perspectivas de crescimento na carreira policial, estamos contribuindo para reduzir o apelo das “facilidades” para se ter uma oportunidade mais fácil de vida, embora de forma ilegal.
O senhor acha que haverá uma resistência dos oficiais à essa novidade?
Acho que não. E, se houver, logo eles verão o valor dos novos colegas. Foi assim também quando as mulheres começaram a ocupar cargos de comando. Rapidamente, elas conquistaram o respeito e a admiração dos oficiais homens. Hoje, é impensável uma PM sem mulheres, sejam elas praças ou oficiais.
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