sábado, 17 de março de 2012

Bope: depois da greve, um ano de transferências em um só dia

Herculano Barreto Filho

Em um único dia de transferências de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) para outras unidades, a Polícia Militar atingiu a mesma quantidade de remanejamentos feitos durante todo o ano de 2011.

As saídas em massa ocorreram em 6 de março, quando foram publicados no boletim interno da PM os nomes de 32 caveiras — 22 deles transferidos para batalhões no interior, a até 300 quilômetros da capital.

Policiais do Bope comemoram a apreensão de fuzis na Rocinha, após a ocupação da favela

Policiais do Bope comemoram a apreensão de fuzis na Rocinha, após a ocupação da favela Foto: Marcelo Carnaval / 14.11.2011

O aumento sistemático de transferências ocorreu entre 14 de fevereiro e a última quinta-feira. Nesse intervalo, 69 policiais com cursos em ações de combate, tiro de precisão e resgate de reféns deixaram a tropa de elite para trabalhar em batalhões comuns.

As saídas se intensificaram cinco dias após a manifestação na Cinelândia, no Centro do Rio, que deu início à greve das polícias. Na ocasião, a equipe Bravo foi chamada pelo comando-geral da PM para reprimir a manifestação. Mas os caveiras se negaram a cumprir a ordem. De lá para cá, os policiais que estavam de plantão começaram a deixar o Bope.

Mudanças para longe

A equipe Bravo começou a ser dizimada. E os seus integrantes, mandados para batalhões distantes. É a chamada "punição geográfica", feita com transferências distantes como forma de penalizar servidores que participam de movimentos favoráveis a greves.

Em 2011, todos os policiais que deixaram o Bope se dividiram entre batalhões na região metropolitana e unidades administrativas. Apenas dois foram para a Baixada.

Este ano, do total de transferidos após a greve, 38 foram obrigados a deixar o Rio. Dezesseis foram para batalhões na Baixada e dois foram para o 35º BPM (Itaboraí). No boletim de 6 de março, 22 policiais foram remanejados para batalhões distantes, como o 8º BPM (Campos dos Goytacazes) e o 32º BPM (Macaé).

Sem a gratificação de R$ 1,5 mil paga a PMs do Bope, alguns transferidos foram obrigados a dividir os gastos com gasolina, para economizar em passagens de ônibus.

— Se não fizermos isso, vamos trabalhar apenas para pagar passagem — disse um policial, que não se identificou.

PM diz que saídas são normais

Apesar do aumento significativo de saída de policiais do Bope, o comando da PM continua afirmando que as transferências são apenas "medidas administrativas". Procurado pelo EXTRA, o coronel René Alonso, comandante do Bope, disse que não iria comentar o assunto. Mas os números mostram que há um aumento significativo numa comparação entre 2011 e este ano, após a greve.

Com 69 transferências em apenas 30 dias, registradas até a última quinta-feira, foram mais de dois policiais do Bope remanejados por dia no período. Por dia, a média é mais de 25 vezes maior frente ao ano passado.

As transferências repentinas deixaram um buraco na tropa, composta por cerca de 400 homens, de acordo com o site da PM. Com as transferências, o Bope perdeu 17,25% do efetivo.

O aumento de transferências na tropa de elite motivou o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) a entrar com uma representação junto ao Ministério Público, pedindo que o caso seja investigado.

— Vou pedir para que se veja a legalidade dessas transferências — disse.

A relação de entrada e saída de caveiras se inverteu do ano passado para cá. Em 2011, 32 saíram e 210 chegaram ao Bope. Nos últimos 30 dias, apenas um tenente-coronel chegou ao batalhão, de acordo com o boletim interno publicado em 15 de fevereiro.

Extra Online

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