Dois soldados e um recruta são acusados de envolvimento no desaparecimento de morador
POR MAHOMED SAIGG
Rio - A Justiça decretou a prisão dos três policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Cidade de Deus, acusados de espancar e desaparecer com Gilmar da Silva Barreto, de 34 anos. Dono de ferro-velho na comunidade, Gilmar está desaparecido desde a madrugada de terça-feira, quando foi detido pelos PMs por dirigir sem documentos.
Por estar sem habilitação, Gilmar foi espancado e está desaparecido | Foto: Reprodução
Os soldados Wllisses Resende Nascimento, Maiko Menezes de Azevedo e o recruta Rafael Guimarães Santos estiveram no Hospital Central da Polícia Militar, onde fizeram exame de corpo de delito e seguem para o Batalhão Especial Prisional (BEP).
Corpo na mala
Segundo contou seu irmão de Gilmar, o pedreiro G., 31, em depoimento à Corregedoria da Polícia Militar, os PMs exigiram dinheiro para liberar Gilmar e o veículo. Sem dinheiro, ele foi espancado na frente dele e de outros parentes.
Os policiais disseram que levariam Gilmar para a 32ª DP (Taquara), mas, na última vez que G. viu o irmão, Gilmar estava sendo colocado no porta-malas de um Gol que deixou a Cidade de Deus dirigido por um dos PMs. O carro e Gilmar ainda não foram localizados.
O GPS da viatura dos três soldados da UPP Cidade de Deus registra que a patrulha não saiu da comunidade. O comandante da UPP, capitão Felipe Carvalho, depôs ontem na Corregedoria e entregou as armas dos soldados Wllisses e Maiko — o terceiro policial não foi reconhecido.
Medo da morte
Sem notícias de Gilmar, parentes do dono de ferro-velho na Cidade de Deus abandonaram a comunidade por conta própria, apesar de a Secretaria de Assistência Social dizer que retirou a família do local e já a incluiu no programa de proteção à testemunhas.
“Estamos com muito medo de morrer”, admitiu o pedreiro G., 31 anos.
Ainda segundo ele, eram 2h de terça-feira quando um PM bateu na porta de casa, na Cidade de Deus, e o acordou, dizendo que tinha prendido o irmão, que dirigia sem carteira. “Ele dizia que a gente ia ter que ‘desenrolar’ para não levá-lo pra delegacia”.
“Quando me aproximei da viatura, vi o Gilmar com várias marcas no rosto e algemado no banco de trás. Ele pedia pelo amor de Deus para que eu não deixasse os PMs levá-lo porque o matariam”, revelou G., que convenceu os policiais a deixá-lo ir junto até a delegacia.
G. ainda contou que, pouco à frente, os PMs pararam o carro, na localidade conhecida como Porteira. Voltaram a espancar Gilmar e exigiram R$ 5 mil para liberá-lo. Se o dinheiro não ‘aparecesse’ em 20 minutos, toda a família seria morta.
G. fez ‘vaquinha’ entre vizinhos, mas só conseguiu R$ 300. “Vi os PMs usando pedaço de pau para bater no meu irmão, dentro do porta-malas, antes de saírem”. Gilmar era casado, tinha dois filhos e a mulher está grávida.
A situação não é mais a mesma, alguns policiais ainda não perceberam isso. A imprensa está em cima, celulares com câmeras em todo lugar e a internet vigiando tudo.
ResponderExcluirEnquanto isso os poderosos, coronéis e delegados com cargos comissionados precisam entregar algumas cabeças para satisfazer a mídia e poderem, eles, continuar seu conluio com traficantes, milicianos, bicheiros, contrabandistas, etc.
Entregando soldados e sargentos eles dão a impressão de que estão “moralizando” a tropa.
Acabou o tempo do arrego, acabou o tempo do faroeste, o policial que ver a coisa errada tem de levar para a delegacia e ferrar o malandro. Este dono de ferro-velho embriagado, sem habilitação e com carro sem documentação estava todo errado, se tivesse sido levado para a 32ª iria ficar encrencado e os PMs manteriam seus empregos e passariam o Natal com a família.
Se liga puliçada, as únicas cabeças que vão rolar são as de vocês.