Herculano Barreto Filho
Um tenente do Batalhão de Choque coloca uma armadura articulada, com proteção e amortecimento, capaz de isolar o impacto de pancadas até de barras de ferro. O tenente-coronel Fábio Souza, o zero-um da tropa, pega um bastão e parte para cima do policial. O teste é feito pelo novo comandante, que assumiu o Choque há dois meses, depois de 15 anos no Bope. O tenente treme. A armadura do combatente do futuro, não.
— Bati com vontade e não quebrou. Parece uma armadura robotizada, mas com mobilidade — aprova Fábio Souza, num rigoroso “teste científico”, na base da força bruta.
Policial posa com a amaradura cedida pelos franceses Foto: Thiago Lontra
Três desses protótipos, feitos com polímero, uma espécie de borracha resistente, e placas de E.V.A., que dá rigidez e resistência, foram doados pela Compagnies Républicaines de Sécurité (CRS), a polícia nacional francesa, que ministrou um curso de duas semanas para os policiais do Choque, ensinando técnicas de gestão em tumultos em grandes eventos. O primeiro passo para formar uma espécie de policial do futuro no Choque foi dado.
O material está servindo de modelo para a fabricação de armaduras, com previsão de entrega até o fim de 2012. De acordo com o Choque, duas empresas abriram licitação para fabricar os trajes, que devem fazer parte do uniforme da tropa na Copa do Mundo. A Secretaria de Segurança (Seseg) informa que “o Estado faz uma tomada de preços para verificar custos, mas não há nada que indique a compra”. Segundo a nota, a negociação prevê a aquisição de pelo menos 1.260 “equipamentos antitumulto”.
O uniforme é próprio para trabalhar em áreas onde haja uma grande concentração de pessoas.
— O objetivo é impulsionar essa tropa para um lugar de destaque na segurança pública — projeta o major Vinicius Carvalho, subcomandante e ex-integrante do Bope, que aceitou o desafio de trabalhar ao lado de Fábio Souza na reformulação do Choque.
O tenente Leonardo Novo completa o trio de caveiras no Choque. O chefe de instrução é o responsável pelos treinamentos da tropa, que estão fazendo com que os policiais adquiram técnicas que antes eram exclusivas da elite da Polícia Militar do Rio.
Um policial do Batalhão de Choque veste a armadura Foto: Thiago Lontra / Extra
Na prática, o primeiro desafio do tenente-coronel Fábio Souza foi na ocupação policial na Rocinha. E a tropa surpreendeu. Lá, todo mundo era suspeito. As incansáveis abordagens “a tudo que se movia”, como lembrou o comandante, desestabilizaram o chefão da comunidade. A prisão de Nem foi a missão dada. E cumprida, sob o comando do caveira.
— Tínhamos a informação de que ele estava na Rocinha quatro dias da ocupação. Aí, fechamos o cerco.
No dia anterior à prisão dele, o serviço de inteligência do Choque, em conjunto com a Secretaria de Segurança (Seseg) receberam a informação de que Nem tinha dois planos de fuga: ou sairia num táxi ou numa ambulância, com uma blusa preta e um rabo-de-cavalo.
— Ele (Nem) ficou sem saber o que fazer. Ele ia tentar sair da Rocinha. Senão, ia ser preso lá dentro.
Quando o homem que se identificou como cônsul de Gana se negou a abrir o porta-malas do carro, o tenente Disraeli Gomes ligou pela primeira vez para o comandante.
— Quando ele disse que a placa não era do corpo consular, falei que ele teria que abrir o porta-malas. E determinei: “Vamos levar o carro até a Polícia Federal”. A missão foi cumprida. É guerra — lembra o tenente-coronel.
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