terça-feira, 17 de agosto de 2010

Inquérito não conclui se PMs pediram propina ou se receberam oferta

Inquérito da PM diz que policiais alteraram hora e local da abordagem.
Segundo corregedor, policiais podem pegar até 15 anos de prisão.

Tássia Thum Do G1 RJ

 

As 200 páginas do Inquérito Policial Militar (IPM) não foram suficientes para determinar se os policiais militares pediram propina ou receberam oferta de dinheiro para livrar do flagrante o estudante Rafael Bussamra, que confessou ter atropelado Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Mascarenhas. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (17) pelo corregedor da Polícia Militar, coronel Ronaldo Menezes.

Rafael Mascarenhas foi atropelado quando andava de skate, no Túnel Acústico, em São Conrado, na Zona Sul da cidade. Na ocasião, o túnel estava fechado para o tráfego de veículos. O caso aconteceu na madrugada de 20 de julho.

O pai de Rafael Bussamra, Roberto, acusa o cabo Marcelo Bigon e o sargento Marcelo Leal, ambos do 23º BPM (Leblon), de exigirem R$ 10 mil para não preservar o local do crime e evitar a prisão em flagrante do filho. De acordo com a Polícia Militar, os dois PMs se recusaram a prestar depoimento à Justiça Militar. No entanto, os advogados dos policiais, afirmam que seus clientes desconhecem qualquer tipo de negociação com Roberto envolvendo dinheiro.

O Inquérito Policial Militar (IPM) foi publicado no Boletim Interno da Polícia Militar nesta terça-feira (17). De acordo com o coronel Ronaldo Menezes, o documento indicou que os PMs praticaram corrupção passiva e outros dois crimes - descumprimento de missão, já que os PMs escoltaram o carro de Rafael Bussamra até uma área que não pertence ao 23º BPM, e por falsidade ideológica. Segundo o inquérito, os policiais alteraram no boletim interno da corporação a hora e o local da abordagem feita a Rafael Bussamra.

"Como os PMs se negaram a prestar informações, o inquérito foi baseado nos dados do GPS dos policiais, assim como nos depoimentos dos outros envolvidos no caso. O inquérito concluiu que houve corrupção. No caso dos PMs, a corrupção foi passiva porque eles receberam o dinheiro. Já o Roberto (Bussamra) foi a parte ativa porque deu o dinheiro", disse o coronel.

Policiais podem ser expusos

O cabo Bigon e o sargento Leal continuam presos na Unidade Prisional da PM, em Benfica, na Zona Norte do Rio. O corregedor da Polícia Militar informou que os policiais podem pegar até 15 anos de prisão pelos três crimes e também correm o risco de serem explulsos da corporação.

O corregedor, coronel Ronaldo Menezes, informou que o Inquérito Militar concluiu que Roberto Bussamra não foi ameaçado pelos PMs, conforme disse em depoimento à delegada Bárbara Lomba, da 15ª DP (Gávea), responsável pelas investigações do caso que terminou com a morte de Rafael Mascarenhas.

"O inquérito concluiu que ele não foi ameaçado pelos PMs. Pelo GPS do carro da PM podemos perceber que o Roberto Bussamra passou próximo a um quartel da Marinha, em outros lugares públicos e ainda se dirigiu a dois bancos. Se ele se sentisse ameaçado ou com medo, ele teria denunciado. Outro aspecto que foi levado em consideração foi o lapso temporal. O Roberto levou três dias para relatar o pagamento da propina à delegada", comentou Menezes.

Ronaldo Menezes acrescentou que foi instaurado nesta terça-feira um conselho disciplinar, que vai determinar qual será a pena aplicada aos PMs. A expectativa é que resultado seja divulgado em até 40 dias. O inquérito será encaminhado ainda esta semana ao Ministério Público, para que o órgão analise se cabe oferecer denúncia aos dois PMs.

Polícia Civil investiga o atropelamento

O IPM também foi encaminhado para distribuição pela 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público. Roberto Bussamra e os dois PMs podem ser denunciados pelo MP e julgados pela Justiça comum.

A Polícia Civil investiga o atropelamento. A delegada Bárbara Lomba, da 15ª DP (Gávea), que está à frente das investigações, espera concluir o inquérito até o dia 20 de agosto. O laudo feito no carro de Rafael Bussamra apontou que o veículo estava a aproximadamente 100 km/h no momento do acidente.

O laudo da reconstituição do acidente apontou que Rafael foi arremessado a uma distância de 50 metros ao ser atropelado.
Segundo Bárbara Lomba, o motorista Rafael Bussamra pode ser indiciado pelos crimes de homicídio culposo ou doloso (quando há intenção de matar), além de omissão de socorro, fuga e corrupção ativa, caso seja comprovado o pagamento de propina aos dois PMs. Se o jovem for condenado por homicídio doloso, a pena pode chegar a 20 anos.

G1 - notícias em Rio de Janeiro

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