segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PMs que trocaram tiros com bandidos em São Conrado serão premiados

Rio - O comandante do 23º BPM (Leblon), tenente-coronel Rogério Leitão, informou nesta segunda-feira que vai premiar os policiais que se depararam pela primeira vez com o "bonde de traficantes" da Rocinha que saía de um baile funk no Morro do Vidigal.

O comandante da unidade disse que não vai abrir sindicância para apurar se a ação dos PMs foi uma operação não autorizada para prender o chefe do tráfico de drogas da Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem.

Ele explicou ainda que não há dúvidas de que os policiais se encontraram por acaso com os bandidos. Não há previsão para operação em busca dos traficantes que fugiram para Rocinha, após o confronto com PMs.

Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia

Entrada do prédio Village São Conrado, que ficou no meio do fogo cruzado | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, se reuniu nesta segunda-feira com o comandante do 23º BPM (Leblon), coronel Rogério Leitão. No encontro, Mário Sérgio prestou apoio aos PMs da unidade e determinou que todos redobrem atenção depois do último sábado, quando cerca de 60 traficantes da Rocinha que saíam de um baile funk no Vidigal levaram pânico aos moradores do bairro. Ao se deparar com policiais, o grupo trocou tiros e invandiu o Hotel InterContinental e fez reféns.

Segundo o comandante-geral, mais homens serão deslocados para a unidade do Leblon. O Disque-Denúncia recebeu até o momento 13 ligações com informações sobre os bandidos que levaram terror aos moradores do bairro. Quem souber sobre o paradeiro dos criminosos pode ligar para o 2253-1177.

Mais cedo, Mário Sérgio Duarte disse que não houve irregularidade na ação dos policiais do 23º BPM (Leblon), que trocaram tiros com bandidos da Rocinha, em São Conrado, no último sábado. "Não houve irregularidade na ação da PM. Até o momento, não chegamos a irregularidade alguma. O que nós temos é uma reação da PM, que foi atrás dos bandidos. Inclusive quatro policiais ficaram feridos no confronto com traficantes", disse Mário Sérgio, em entrevista à Rádio CBN. Dois dias após o episódio, a polícia reforçou a segurança na Avenida Niemeyer e na região.

Segundo o comandante-geral da PM, policiais do 23º BPM faziam um patrulhamento normal nas ruas da cidade, quando se depararam com os criminosos.  "O que se tinha era um alerta geral de viaturas, já que nos fim de semana traficantes passam a se locomover para favelas de mesma facção, muitas vezes para comemorar aniversários. Passamos alertas para os policiais ficarem mais atentos", disse.
>>> GALERIA DE FOTOS: Tiros e pânico em São Conrado

Os condomínios onde bandidos teriam buscado refúgio estão sendo vasculhados. "Não vamos deixar de verificar e checar novas notícias sobre o paredeiro de criminosos e armas", explicou o comandante-geral da PM.  Mário Sérgio informou que traficantes da Rocinha estavam em um baile funk no Morro do Vidigal, na Avenida Niemeyer, também em São Conrado, e ao tentarem voltar se depararam com uma patrulha da PM .

O circuito de TV dos prédios no entorno da Rocinha estão sendo avaliados para saber se o chefe do tráfico de drogas da Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, estava no grupo de 60 bandidos que trocou tiros com PMs. Na fuga, 10 criminiosos invadiram o Hotel Intercontinental e fezeram 30 funcionários reféns. O patrulhamento foi reforçado no entorno do hotel.

No último sábado, testemunhas relataram que o chefe do tráfico na Rocinha teria escapado da polícia ao invadir, escoltado por um grupo de traficantes, o condomínio Village São Conrado. O bando rendeu porteiros e vigilantes numa das entradas, na Avenida Aquarela do Brasil, e saiu pelos fundos, na Autoestrada Lagoa-Barra. “Foi uma cena incrível. Com fuzis, pistolas e granadas, eles fizeram uma barreira em torno de um homem, porque outro gritava toda hora: ‘protejam o chefe!’, contou V., 35 anos.

“Quando ouvi o barulho dos tiros, o porteiro interfonou dizendo que os bandidos tinham passado por dentro do condomínio para chegar à autoestrada. Tinha muita munição no chão”, afirmou um engenheiro, de 62 anos.

Empregado de um edifício na Av. Aquarela do Brasil, J. disse que já “cansou” de ver ‘bondes’ passando pela via entre o fim das madrugada de sextas-feiras e o início das manhãs de sábado. “Isso é comum. Todo mundo já viu. Eles passam com armas pesadas em punho em motos, vans, Kombis e até em carros de luxo ”, disse.

Atingido por dois tiros no braço direito, o mecânico A., 40 anos, não consegue tirar da memória os momentos de pavor que enfrentou. “Consertava o motor de um carro na rua quando a guerra começou.

Me joguei no chão, atrás do veículo, mas duas balas me atingiram. Sorte que em pleno tiroteio, um senhor parou o carro com a porta aberta para eu entrar e me levou para o Hospital Miguel Couto. Ele já levava outro homem baleado. Queria reencontrá-lo para agradecer, mas sequer sei o seu nome”, lamentou.

O outro baleado foi o despachante de ônibus Wallace Oliveira, 34 anos, atingido por um tiro de raspão no tórax. Ele se abaixou dentro de uma pequena cabine da Viação Amigos Unidos, que ficou com várias marcas de tiros.

Motorista da Comlurb traumatizado

Abalado, o motorista da Comlurb que ficou no meio do tiroteio entre policiais e bandidos, na manhã de sábado, na Avenida Aquarela do Brasil, pensa em largar a profissão. “Ele está muito traumatizado. Disse que passou a noite acordado e que tem dificuldades em conversar sobre o episódio”, contou um colega.

Para os amigos, o motorista descreveu que, ao ficar no fogo cruzado, saiu abaixado do caminhão de lixo e correu para se proteger em um condomínio. O veículo foi usado como escudo pelos traficantes durante o confronto com os PMs.

No dia seguinte ao confronto, em cada esquina de São Conrado, só havia um assunto: o dia de terror da véspera. “Vi tudo da minha janela do décimo sexto andar. Vestidos com coletes pretos, os bandidos berravam, atiravam para todos os lados e tentavam render motoristas que passavam. Quase não acreditei quando eles entraram no hotel”, disse a moradora Suad Afif, 57 anos, que reside há 25 num prédio próximo ao Intercontinental, e somente no início da tarde saiu de casa para levar seus dois cães para passear.

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