Carlos da Cruz Sampaio Júnior trabalhava na Secretaria de Segurança, a poucos metros de José Mariano Beltrame
Rio - Dois vídeos divulgados no Youtube neste sábado mostram o falso tenente-coronel Carlos da Cruz Sampaio Júnior, que trabalhava na Secretaria Estadual de Segurança, comandando um curso de tiros para PMs.
O falso militar foi preso usando uma carteira de identidade adulterada do Exército e um revólver calibre 38, na última quinta-feira. Ele trabalhava no quarto andar da Secretaria de Segurança — a poucos metros do secretário José Mariano Beltrame — e tinha acesso aos dados mais estratégicos de combate ao crime e de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Ele foi capturado e indiciado na 4ª DP (Central) por falsidade ideológica e porte ilegal de arma, e também poderá responder por falsificação de documento público. A trajetória de Sampaio na Secretaria de Segurança é antiga. Mesmo com documentos falsos, ele trabalhou no órgão entre os anos de 2003 e 2006. E voltou em 12 de julho para a ocupar o cargo de Coordenador da 1ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), resposável por 12 áreas do Centro e zonas Sul e Norte do Rio.
O convite para o cargo foi feito pelo subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, o delegado federal Roberto Alzir Dias Alves. “Ele começou a ser investigado há 45 dias e, com o monitoramento que fazemos de todos os funcionários, constatamos as irregularidades. O documento era verdadeiro, mas os dados, falsos”, explicou o subsecretário de Inteligência, Rivaldo Barbosa.
A descoberta foi sacramentada quarta-feira, quando o ofício 354/10-0007/S1 do Comando do Exército informou que ele nunca havia integrado a corporação. Em nota, a Secretaria de Segurança alegou que “o procedimento é lento quando se investiga o passado de alguém no setor público”.
Palestras para delegados e PMs
Se a verdadeira identidade de Carlos da Cruz Sampaio Júnior demorou para ser descoberta, ele era bem conhecido da polícia em palestras sobre análise de dados da segurança pública. No dia 16 de julho, Sampaio falou para um grupo de delegados e oficiais da Polícia Militar sobre ‘manchas criminais’, locais com maior incidência de crimes, durante um evento promovido pela Associação Comercial e Empresarial Cidade Nova.
Sampaio costumava dizer ainda que, em julho do ano passado, desenvolveu com o então comandante do 6º BPM (Tijuca), Fernando Príncipe, uma estratégia de policiamento que ajudou na redução dos índices de criminalidade na região.
Depois de ser preso, o falso tenente-coronel reconheceu aos policiais que nunca havia sido oficial militar e que o revólver 38 pertence ao seu pai, que integra o Exército. Ao ser readmitido na Secretaria de Segurança, não foi checado, por exemplo, que Sampaio teria emitido 11 cheques sem fundo.
‘Comando’ de quartéis do Exército e ‘curso’ de Direito
A trajetória de golpes de Sampaio não é curta, como revela o próprio ‘currículo’. Além da formação no curso de Direito e de duas pós-graduações, todas inexistentes, já que eles sequer concluiu o ensino superior, o falso oficial revelava uma vasta experiência nas Forças Armadas.
Sampaio dizia ter sido o comandante do 2º Pelotão Especial de Fronteira Solimões, no Amazonas; oficial de Munições, Explosivos e Manutenção de Armamento do 42º Batalhão Motorizado, em Goiás; e comandante do Pelotão de Operações Especiais do Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília.
Em 2002, ele foi nomeado coordenador da Secretaria de Segurança, onde atuou como assessor do subsecretário de Planejamento e Integração Operacional e, em 2003, como coordenador da Operação Pressão Máxima. No ano seguinte foi coordenador da Base Operacional Nova Sepetiba, onde ficou até 2006.
Curiosamente, nesse mesmo período, Sampaio trabalhou em firmas de segurança: na Farhus Vigilância e Segurança Ltda. e na CJC 2007 Projetos e Construções Ltda. Entre suas especializações, o falso oficial também apresentava informações de outros sete cursos, entre eles um da Secretaria de Segurança Pública.
Reportagens: Adriana Cruz, Leslie Leitão e Vania Cunha
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