segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vítima de furto diz que não viu PMs agredirem mulher na Rocinha

Autora do crime acusa PMs de tortura e agressão sexual.
Comerciante disse que ficou com os policiais o tempo inteiro.

Do G1 RJ

O Bom Dia Rio conseguiu com exclusividade o depoimento da comerciante da Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, que teve a bolsa furtada, na quarta-feira (18). Ela e três policiais militares foram ouvidos no sábado (21). Os PMs do Batalhão de Choque são suspeitos de torturar e agredir sexualmente uma moradora da comunidade que furtou a bolsa da comerciante.

Os policiais Renan Ribeiro de Souza, Cid Lima dos Santos e Rodrigo Bernardo Gama de Almeida foram indiciados por estupro e tortura e cumprem prisão preventiva (30 dias) decretada pela Justiça na Unidade Especial Prisional da PM (antigo BEP).

A comerciante já foi ouvida duas vezes pela polícia. Em seu depoimento, ela afirma que ficou o tempo inteiro com os policiais e não notou sinais de agressão na mulher presa. Ela contou também que dois policiais deram voz de prisão à vizinha que a furtou, e que a mulher foi algemada, pois estava resistindo. A comerciante disse ainda que recebeu um telefonema para prestas esclarecimentos.

Os PMs e um quarto agente foram denunciados pela autora do furto. Eles foram ouvidos durante a madrugada de sábado (21) na 14ª DP (Leblon). Nos depoimentos, que duraram 8 horas, eles disseram que a vítima do furto ficou o tempo todo presente, o que, segundo eles, prova que as agressões não aconteceram.

A comerciante também afirmou que só ficou sabendo da agressão à vizinha presa quando chegou à delegacia para prestar o segundo depoimento. Ela disse que foi atendida por uma policial que, após relatar o que havia acontecido, acusou-a de estar mentindo e que tinha provas de que a vítima havia sido estuprada dentro de casa. Ainda assim, a comerciante disse que não estava mentindo e que ficou dentro da casa com os PMs e a autora do furto o tempo todo.

O marido da comerciante também depôs e afirmou que a vizinha estava em perfeitas condições físicas, sem nenhuma lesão, marca, ou qualquer outro sinal de machucado.

O suposto ataque

O suposto ataque teria acontecido na noite de quarta-feira (18). A mulher de 36 anos que denuncia os policiais tinha furtado a bolsa de uma outra moradora da Rocinha, e foi encaminhada ao Instituto Médico-Legal (IML).

Um laudo preliminar confirmou as lesões. O documento, obtido com exclusividade pelo RJTV, traz as anotações do perito que fez o exame de corpo de delito: positivo para lesão corporal e positivo para ato libidinoso diverso de conjunção carnal.

Acusações

A mulher que denunciou os policiais diz que foi amarrada dentro de casa, pelo PM Cid Lima dos Santos. Em seguida, o PM Renan Ribeiro de Souza a teria atingido com socos, chutes e golpes com toalha molhada. O mesmo policial, ainda de acordo com o depoimento, teria cometido uma agressão sexual contra a mulher. O terceiro PM indiciado, Rodrigo Bernardo Gama de Almeida, também estava na casa quando aconteceram as agressões.

A vítima das supostas agressões confessou ter furtado uma bolsa. Ela contou ainda que os policiais fizeram várias ameaças, inclusive dizendo que iriam matar seus parentes, caso revelasse na delegacia as agressões que sofreu.

Investigações

Além da Polícia Civil, a Corregedoria Geral Unificada (CGU) da Secretaria de Segurança Pública também investiga o caso. Em nota, a Secretaria de Segurança afirma que o secretário José Mariano Beltrame "determinou à CGU o máximo de rigor nas investigações relacionadas a esse caso".

No sábado (21), o relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, comentou o caso. "Para a Polícia Militar é uma situação que realmente requer de todos nós muito rigor. Também, por outro lado, muita serenidade para que nós possamos oferecer aos policiais oportunidade de se defenderem. Mas, especialmente, para todos nós também esclarecermos essas acusações que, na hipótese de serem verdadeiras, são muito graves. Mas nesse momento as providências foram tomadas", afirmou Caldas, em entrevista ao RJTV.

Já na noite de sexta-feira (20), o Comando da Polícia Militar havia determinado à Corregedoria o afastamento dos policiais suspeitos.

Em nota, o comando da PM informou que "determinou à Corregedoria da corporação a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as acusações imputadas a policias militares do Batalhão de Choque bem como o afastamento dos mesmos, das atividades operacionais até o fim da apuração".

Denúncias contra PMs de UPP

Na quarta-feira (18), o G1 publicou reportagem sobre denúncias de desvio de conduta de PMs em comunidades pacificadas do Rio. Um levantamento feito pelo Disque-Denúncia a pedido do G1 mostrou que nos primeiros três meses deste ano foram 111 ligações relatando desvios diversos e corrupção. No ano passado, foram 378 denúncias sobre o problema nas áreas pacificadas.

A Rocinha encabeça o ranking das ligações para o Disque-Denúncia sobre corrupção e outros desvios de conduta de policiais em áreas ocupadas pelas forças de pacificação no Rio, no primeiro trimestre deste ano. Segundo o documento, das 111 queixas recebidas nesse período, 13 são referentes à comunidade de São Conrado, na Zona Sul, onde atualmente atuam 700 policiais.

G1 - Rio de Janeiro

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