Por
DIOGO DIAS
FELIPE FREIRE
JOÃO ANTONIO BARROS
Rio - O mapa dos complexos do Alemão e da Penha tem de volta a zona do medo. Dois anos após a Força de Pacificação retomar o controle sobre os territórios dominados pelo tráfico de drogas, os PMs das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) da região pedem socorro.
Acuados pelos traficantes, que pouco a pouco voltaram a desfilar nas comunidades com suas armas de longo alcance, os agentes saem às ruas para trabalhar à espera de novos confrontos. Só nesta semana, foram três tiroteios, dois na Vila Cruzeiro e um no Parque Proletário, na Penha.
Foto: Reprodução
Com o medo incorporado à rotina, os militares se valeram de método usado pelos moradores para pedir socorro e escapar dos olhos dos traficantes: jogaram carta dentro do carro da equipe do DIA que percorria o complexo.
No bilhete, asseguram que as leis do tráfico estão de novo em vigor na Vila Cruzeiro e no Parque Proletário.
“O tráfico continua o mesmo, não nos deixam trabalhar. Não podemos abordar motoxista”, garantem PMs, que, no final do documento, imploram: “Por favor, nos ajudem”. Também alegam que há quatro meses não recebem a gratificação de R$ 750.
O medo se justifica com as informações do plano de ataque traçado pelos criminosos após o roubo de grande quantidade de gasolina em um posto da região — que poderia ser usada no preparo de coquetéis molotov. “Suspeitos passam diariamente por nós e nos vigiam nas ruas”, garante um policial da UPP Alemão.
Os sinais do retorno dos traficantes também estão no lado que não veste a farda azul da PM. Depois dos dias de esperança, os moradores agora se trancam em casa ao cair da noite. Eles confirmam que os criminosos voltaram a circular armados em ruas e becos, e os antes esporádicos tiroteios agora cortam o silêncio quase todas as noites.
PM reforçou policiamento no Complexo do Alemão após tiroteio | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
“Eles (traficantes) ostentam fuzis em algumas áreas e não se desesperam mais com a aproximação dos policiais”, contou comerciante da Vila Cruzeiro. O pavor é traduzido com ruas desertas e comércio fechado à noite.
‘O soldado que fica’ na voz e letra de MV Bill
Cria da Cidade de Deus, que recebeu UPP em fevereiro de 2009, o rapper MV Bill lançou ontem a música ‘O soldado que fica’. A canção cita a vida dos ‘pequenos’ traficantes que continuam nas favelas após serem ‘abandonados’ pelos chefões do pó no momento da pacificação.
“Jurei lealdade a minha quadrilha, valorizei o crime...Decidi errado, me decepcionei, entrei nessa de embalo sem saber”, diz um trecho da letra.
Narrando na visão de um bandido a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o cantor indica que não há como impedir a ocupação policial. Ele ainda destaca na letra a fuga dos chefes da quadrilha.
“Daqui de cima dá pra ver a movimentação para instalação de uma nova UPP. Unidade de Policiamento Pacificador, sem arrego, acabou o amor. O parceiro abandonou, só os pica que ficou (sic). O patrão foi na neblina, pra sair de fuga, me escalaram pra ficar plantado aqui de madruga. Alvo fácil, vulnerável, se o Bope decidir entrar, é implacável”, canta.
MV Bill ainda destaca a perda da força do tráfico na favela. “A própria comunidade não fecha mais comigo. Pra eles a solução é matar, vão me tirar de cena”.
Piná é o novo ‘chefe do pó’
O homem por trás dos tiroteios na Vila Cruzeiro seria conhecido como Piná. O bandido foi o encarregado por Fabiano Atanásio da Silva, o FB, de manter as bocas de fumo funcionando após a sua prisão, em janeiro.
E uma das novidades na sua ‘administração’ é o retorno do baile funk no Campo da Ordem, onde o jogador Adriano deu seus primeiros chutes. Além do Grotão, os policiais das UPPs locais têm cinco localidades na zona do medo: Pedra do Sapo, Rua Joaquim Queiroz, Parque Proletário, Merindiba e Fazendinha — onde foram apreendidos ontem explosivos, revólveres e drogas.
Em outra ação, mais de 100 sacolés de cocaína foram achados na Nova Brasília. Ninguém foi preso.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora não respondeu sobre os policiais estarem acuados pelo tráfico. Disse apenas que não orienta PMs a não abordarem mototaxistas. Em relação à gratificação atrasada, diz que, como as UPPs foram inauguradas em agosto, o pagamento dos PMs está no prazo de quatro meses firmado.
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