domingo, 6 de dezembro de 2009

Eles são a nova cara da PM

Turma que integrará UPP do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo é a primeira a receber treinamento com ênfase em Direitos Humanos e técnicas refinadas de abordagem ao cidadão. Dos 300 recrutas, 40% têm curso superior

POR VANIA CUNHA

Rio - Jovens, com boa formação — 40% têm curso superior — e apaixonados pela farda azul, os 300 recrutas que em breve darão vida à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo carregam nos ombros uma responsabilidade além da difícil missão de mudar a vida nas comunidades. Primeiros a receber o novo modelo de treinamento da Polícia Militar, eles fazem parte da renovação da qual depende a imagem que a polícia quer — e precisa — demonstrar para a população do Rio.

Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Cerca de 40% dos recrutas têm diploma de nível superior | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O dia

Entre as novidades no curso, estão cinco matérias de Direito Militar, aulas de Direitos Humanos, ética e prática de polícia cidadã, com representantes do Movimento Viva Rio. Também foram intensificadas as aulas práticas, como educação física e defesa pessoal. O treinamento de abordagem de pessoas e veículos e progressão em favelas agora somam mais de 10% da carga horária no Centro de Formação de Praças (CFAP), em Sulacap.

Os aspirantes também deram mais tiros que seus antecessores: cada aluno gastou, em média, 300 munições. Nas edições anteriores, os recrutas davam 150 tiros. Mas é o quesito “boa conduta” a maior preocupação, tanto de professores como de alunos.
"O que acontece de errado não é inerente à profissão, mas à pessoa, ao caráter dela. Queremos reconquistar a confiança da população para que ela tenha o policial como um amigo”, afirma o recruta Felipe Lessa, um dos integrantes do grupo que se forma no dia 21.
Os novatos têm idade média de 26 anos e, entre os que chegaram à faculdade, a variedade de formação é grande: Turismo, Direito, Pedagogia, Informática, Letras, Petróleo e Processamento de Dados estão entre os ‘diplomas’ apresentados pelos novos PMs.
A maioria vem de famílias de classe média baixa. Para atestar a boa conduta, a corporação fez uma ampla pesquisa da vida pessoal e psicológica.
Para o comandante da unidade, tenente-coronel José Havani, a formação dos militares cresceu muito em qualidade desde a última vez em que serviu no CFAP, em 1987.
“As disciplinas de abordagem melhoraram muito, a formação virou prioridade. E é o que mais se quer na rua, um policial bem treinado para servir bem a população”. A companhia também foi a primeira a ter aulas práticas na cidade cenográfica inaugurada este ano para treinamentos.
‘Amo a PM’, diz a única mulher do grupo
Carla Batista, 27, é a única mulher de sua turma. E usou sua suposta desvantagem física a seu favor. “Não queria parecer frágil. Isso acabou virando incentivo para todos porque, se a mulher fazia, eles tinham que fazer também”, diverte-se a moça.

Mas quem olha a futura soldado em ação nem imagina o quanto a carreira militar mudou o curso do seu destino. “Eu era noiva e ia morar no Uzbequistão, mas preferi ficar na PM”, diz ela, com uma naturalidade chocante.

“Acredito que fiz a escolha certa, essa é a minha missão. Amo a PM, sempre quis estar aqui”, afirma, confiante.
Famílias se orgulham da opção de seus filhos
Bastou o anúncio do sobrenome Drummond de Andrade para o pelotão apelidar o recruta Bruno de ‘poeta’. Parente distante do escritor, pedagogo por formação, o aspirante garante não ter lá muito talento com as palavras. “Até arrisquei escrever alguns versos, de tanta pressão que os colegas fizeram. Mas só de brincadeira”, diz ele, ressaltando ser melhor soldado que poeta.

“Esses garotos me fazem ver uma nova polícia, com mais esperança para o cidadão”, disse o pai do soldado, Antônio Andrade.

O orgulho pela formatura que se aproxima faz o soldado Douglas Ribeiro abrir um largo sorriso. É através da nova carreira que ele pretende alcançar o sonho de cursar faculdade de Gastronomia e deixar para trás os tempos difíceis.

“Morava numa casa de madeira sobre os trilhos de trem, em Itaperuna. A gente não tinha nada, eu mal pude estudar. Quando tinha 9 anos, minha mãe veio trabalhar no Rio e nunca mais a vi. Quando fiz 17 anos, vendi meu teclado que tocava na igreja para vir atrás dela”, conta Douglas, que entrou para a Marinha Mercante e viajou o Brasil inteiro para cuidar da comida dos navios e orgulha-se de ter preparado o jantar em evento com o presidente Lula.

“Acho que ele gostou do tempero”, brinca. Dois anos depois, ele trocou a Marinha pela PM para estabelecer residência fixa no Rio.

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