Matador da Liga da Justiça, soldado PM não poupava vida nem dos milicianos aliados
POR ADRIANA CRUZ
Rio - Apontado pela polícia como um dos principais matadores da milícia Liga da Justiça, que atua na Zona Oeste, o soldado PM Carlos Ari Ribeiro, o Carlão, de 34 anos, não poupava nem a vida dos aliados. Preso em junho e denunciado por uma série de homicídios, o paramilitar foi flagrado tramando contra seus comparsas em escutas autorizadas pela Justiça.
Numa delas, de 13 de maio, Carlão marcou encontro com Jadir Jeronymo Júnior, o Gorilão, às 20h51 — ambos já haviam sido denunciados por tentar matar um PM. Uma hora depois, Carlão, numa só emboscada, matou a tiros, além de Gorilão, Denilson Santos, o Bochechudo, e Leandro Soares Matias, o Léo, num campo de futebol na Zona Oeste.
Lancha de Carlão, no valor de R$ 90 mil, foi apreendida pela polícia no dia da prisão do miliciano, em junho | Foto: Agência O Dia
Carlão também é acusado de ter matado, horas antes, Uilder Eduardo Espírito Santo, em Campo Grande. Segundo as investigações, para atrair Gorilão até a morte, por suposta traição à cúpula da Liga da Justiça, o miliciano alegou a venda de uma pistola e pediu para avisar a Bochechudo que ‘ele não se arrependeria’ do negócio. Para esconder o crime, Carlão queimou os corpos em um Siena, em Cosmos. As famílias só conseguiram identificar as vítimas após ceder material genético para exame de DNA.
Carlão foi denunciado por seis homicídios à Justiça, por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. “Falar de Carlão na Zona Oeste era um Deus nos acuda. Ele era um dos matadores mais atuantes da Liga da Justiça”, afirmou o promotor Marcus Vinicius Leite.
Para o promotor, a prisão do paramilitar foi fundamental para esclarecer outros crimes. À época, a polícia apreendeu com ele pistola 45, carros de luxo, motos e até lancha no valor de R$ 90 mil. “Com isso, foi possível fazer o confronto balístico e comprovar o envolvimento dele em homicídios que foram denunciados à Justiça. Esperamos que outros casos também possam ser descobertos”, avaliou Marcus.
Acusado de pelo menos mais dez assassinatos, Carlão já foi condenado na 42ª Vara Criminal por porte ilegal de arma e receptação a 7 anos e 1 mês de prisão. Na sentença, a juíza Alessandra de Araújo Bilac determinou a perda do cargo de soldado da PM e não concedeu o direito de ele recorrer da decisão em liberdade.
Marcus Vinícius Leite, promotor de Justiça: 'Frio e agindo como psicopata, matava seus aliados'
“A prisão do Carlão representou um alívio para os moradores da Zona Oeste. Ele é um dos principais assassinos da milícia Liga da Justiça. Foi preso no ano passado por porte ilegal de arma e receptação de produto de roubo. Frio e com comportamento psicopata, matava seus aliados. Em janeiro, Carlão e Jadir Jeronymo tentaram matar um PM, em Campo Grande. O motivo seria o fato de o militar ter colaborado para que ele fosse preso”.
Expulsão da polícia pode sair esta semana
A Corregedoria da PM deve encaminhar, esta semana, para o comandante-geral, coronel Mário Sérgio Duarte, o resultado do Conselho de Revisão de Disciplina (CRD) de Carlos Ari Ribeiro, o Carlão, que está preso no Batalhão Especial Prisional (BEP).
A palavra final para a exclusão do soldado é sempre dada pelo comandante. Exames de balística na pistola 45 de Carlão permitiram que a polícia identificasse que foi daquela arma que partiram os tiros contra Evando Rodrigues Santos e Márcio dos Santos Rangel, presidente da Associação de Moradores de Jardim Olívia. Eles foram mortos no dia 27 de abril.
Em 2007, três PMs, entre eles Carlão, foram acusados pelo funkeiro Mr. Catra de agressão na saída da boate Cat Walk, na Barra. O caso foi registrado na 16ª DP (Barra). Na Liga da Justiça, Carlão era um dos homens de confiança do ex-PM Ricardo Teixeira, o Batman.
A organização criminosa era comandada por dois irmãos: o ex-deputado estadual Natalino José Guimarães e o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, presos. Atualmente, segundo as investigações, quem comandaria a Liga da Justiça seria Toni Ângelo, foragido da Justiça e expulso da PM em 2009.
Escutas autorizadas pela Justiça
O encontro marcado por Carlos Ari Ribeiro, o Carlão, para negociar arma com os aliados Gorilão, Bochechudo e Léo, era apenas uma isca para a emboscada. Todos foram mortos e os corpos, queimados. O trio era considerado aliado da milícia Liga da Justiça.
Para identificá-lo, as famílias tiveram que ceder material genético para o exame de DNA.
Gorilão: Fala, irmão.
Carlão : Fala, macaco.
Gorilão: O Bochechudo tá longe pra c., mas tem um amigo aqui perto.
Carlão: Mas escuta só: vamos marcar às 11 horas lá no campinho. Onze horas, não. Dez horas.
Gorilão: Dez horas. Onde?
Carlão: No campinho, no campinho. Aquele campinho lá no meu bairro.
Gorilão: Aquele campinho que a gente jogou futebol naquele dia ?
Carlão: É, que você só fez m...
Gorilão: Show!
Carlão: Vê se consegue fazer contato com o Bochecha aí também, entendeu? Aí vai eu, você e o Bochecha (sic). Aí, o amigo está olhando lá.
Gorilão: Tá, mas sendo que o Bochecha tá a pé e tá longe pra c. Ele falou que tá vindo pra área, mas tá a pé.
Carlão: Fala pra ele que não vai se arrepender, não, hein. É 4.0 (pistola ponto 40) que tem lá, fora aquilo.
Gorilão: Tá show! Tá show!
Carlão: Tá. Dez horas hein, macaco.
Gorilão: Fechou.
Carlão: Valeu.
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