quinta-feira, 7 de abril de 2011

Kiko Alves, colunista do Meia Hora, faz relato da tragédia em Realengo

Relato de Kiko Alves, colunista do MEIA HORA e morador da rua onde fica a escola. Ele chegou à porta do colégio antes dos bombeiros e viu os moradores tentando prestar os primeiros socorros.

"Eu estava na padaria na esquina e vi umas crianças correndo, chorando, uniformizadas. Eram muitas crianças uniformizadas saindo da rua da escola Tasso da Silveira. Parei uma das crianças e perguntei o que houve, e ela, chorando, disse que entrou um louco armado e saiu dando tiros em todo mundo dentro da sala de aula.

Essa criança tinha levado um tiro no braço, mas se jogou no chão. Eu fui em direção ao colégio, porque minha irmã já foi diretora de lá até cerca de dois anos atrás e de vez em quando ela vai lá fazer alguma atividade. Cheguei na porta da escola e vi crianças chorando, várias ensanguentadas. Nessa hora, vi um vizinho meu saindo lá de dentro com uma criança morta nos braços, e outro morador botou o corpo numa Kombi.

Estava havendo uma blitz aqui na Rua Piraquara, bem em frente a minha casa, e avisaram os policiais do que estava acontecendo. A cena que eu vi jamais me esquecerei, corpos sendo tirados ensanguentados, crianças chorando sujas de sangue...

A filha da minha prima foi uma das mortas. Ela levou dois tiros na cabeça. A cena do pai entrando na escola e saindo desesperado porque a filha estava morta foi chocante. Depois, os carros dos Bombeiros foram chegando e tirando as crianças, mas não dava para a gente identificar se estavam com vida ou não."

Bombeiros retiram corpos da escola após massacre | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

Cenas de horror em Realengo

Na manhã desta quinta-feira, 7 de abril, um jovem de 24 anos entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste da cidade, dizendo ter sido convidado para dar uma palestra aos alunos.

Ele subiu três andares do prédio e entrou numa sala onde 40 alunos da nona série assistiam a uma aula de Português, abrindo fogo contra os estudantes com idades entre 12 e 14 anos.

Testemunhas relatam um verdadeiro massacre. Wellington Menezes de Oliveira teria mirado contra a cabeça dos estudantes, com a clara intenção de matá-las. Quase trinta alunos foram baleados e mais de 10 morreram.

Após o ataque, o assassino deixou uma carta de de teor fundamentalista no local. O texto continha frases desconexas e incompreensíveis, com menções ao Islamismo e até mesmo práticas terroristas. Em seguida, ele se matou dando um tiro na própria cabeça.

Alunos, professores e funcionários da escola acreditam que mais de cem disparos foram efetuados. Wellington, um ex-aluno do colégio, estava armado com dois revólveres e recarregou a arma durante a ação.

O imenso barulho também assustou a vizinhança, que ainda ouviu os gritos de horror das crianças que, ensanguentadas, correram às ruas em busca de socorro.

Rapidamente uma multidão se formou em frente à escola. Em desespero, familiares e amigos tentavam ajudar as crianças e identificar as vítimas, ao mesmo tempo que tentavam entender os motivos do massacre.

O ministro da Educação, José Haddad, considerou este um dia de luto para a educação brasileira. Com a voz embargada, a presidente Dilma Roussef se disse chocada e consternada com o episódio e, com lágrimas nos olhos, pediu um minuto de silêncio pelos "brasileirinhos que foram retirados tão cedo de suas vidas e de seus futuros".

Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Bombeiros que ajudaram as vítimas do massacre | Foto: Severino Silva / Agência O Dia

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