terça-feira, 15 de novembro de 2011

Chefão do tráfico montou verdadeiro 'bunker' na mata

Rio - A mata que cerca a Favela da Rocinha era o grande refúgio do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Além de matar e ocultar corpos de desafetos, aquele foi o local escolhido pelo chefão do pó para esconder seu arsenal e drogas. Há informes de que o traficante também tenha enterrado dinheiro dias antes da ocupação.

Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Policiais do Bope apresentam armas, munição e drogas apreendidas na Rocinha | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Desde que entrou na Rocinha, domingo, a polícia já encontrou 174 armas, boa parte delas enterrada no alto da favela. A certeza de que reconstruiria seu ‘império do crime’ era tanta, que o criminoso montou um verdadeiro ‘bunker’ embaixo da favela: uma cisterna foi especialmente construída para abrigar o material.

Durante dois dias, policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) vasculharam a mata em busca de armas deixadas para trás pelos bandidos. E, ontem, trocaram os fuzis por pás e picaretas até encontrarem, na localidade Dionéia, um paiol do tráfico: 24 fuzis, uma metralhadora antiaérea ponto 30, sete pistolas, duas granadas, dois lança-rojões e 25 quilos de cocaína, além de cerca de 3 mil projéteis de diversos calibres. Os policiais saíram da mata, carregando o material sobre os ombros, e aos gritos de: ‘caveira’’.

Por volta das 17h, agentes da 39ª DP (Pavuna) localizaram um dos mais bem estruturados esconderijos da quadrilha, na localidade Vila Verde, atrás da UPA da Rocinha. Uma cisterna foi construída com estrutura de concreto, onde estavam escondidos 4 fuzis — um com mira telescópica — 5 pistolas, 14 granadas, munição, 2 placas de cerâmicas para coletes que suportam tiro de fuzil, cocaína e 42 carregadores.

O abrigo tinha cerca de um metro de concreto de espessura e, para apreender o material, policiais precisaram de britadeira da prefeitura para perfurar o cimento. O material estava embalado com plásticos e fitas adesivas.

Além de abrigar o material bélico da quadrilha, a mata era o local usado pelo ‘Bonde Picota’, grupo comandado pelo traficante Miro, braço direito do chefão Nem, que tinha a missão de esquartejar e ocultar os corpos dos inimigos. Eles são apontados pela polícia como os responsáveis pela execução da modelo Luana Rodrigues Souza, 24 anos, e de uma amiga dela. Domingo, a polícia encontrou as armas: dois machados com a inscrição ‘Bonde do Picota’.

Camisas semelhantes à da Polícia Civil em refinaria de pó

Equipes do Bope apreenderam na favela 150 camisas semelhantes às usadas pela Polícia Civil, além de roupas camufladas. Policiais do Bope também recolheram 16 caça-níqueis na Estrada da Gávea.

À tarde, uma moradora avisou ao Bope que uma casa na Rua 2 era usada pelo tráfico como refinaria de cocaína. Lá os policiais apreenderam 90 litros de ácido sulfúrico, 50 litros de éter e 30kg de pó branco que pode ser cocaína ou produto para misturar à droga.

O Bope também chegou a uma casa no Largo do 199 que seria de gerente do Nem conhecido como Xexéo. A polícia apreendeu touca ninja e anotações do tráfico, inclusive escala de plantões de ‘soldados’.

Também morador da Rocinha, Aroldo dos Santos, 31, se entregou nesta segunda-feira à polícia. Condenado por associação para o tráfico, ele estava foragido há 13 anos e foi convencido a se render pela mãe. Ao todo, 8 suspeitos já foram presos desde a ocupação, no domingo.

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