terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Suspeita de fraude com benefícios de PMs

Delegacia abre inquérito para investigar Caixa Beneficente da Polícia Militar por não repassar a famílias dinheiro de contribuições

POR PAULA SARAPU

Rio - A peregrinação da técnica em fisioterapia Maria de Lourdes Evangelista Souza em busca do benefício do marido morto, um sargento reformado da PM, já dura quase quatro anos.

Depois de 21 anos de contribuição mensal, descontada em contracheque, o PM não conseguiu dar à família a tranquilidade que esperava quando se associou à Caixa Beneficente da Polícia Militar. O sargento Waldeci Pereira de Souza morreu em 2006 e Maria de Lourdes só recebeu R$ 500 da associação, que está sendo investigada pela Polícia Civil por desvio de dinheiro das contribuições dos associados.

Um inquérito foi instaurado na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) para apurar se o esquema funcionava a partir de contratos firmados com a União Nacional de Assistência aos Servidores Públicos (Unasp) para a prestação de serviços terceirizados.

O contrato foi assinado no dia 18 de setembro de 2007, mas não houve registro em cartório, apenas na ata de uma reunião entre diretores. Desde o início do contrato, a Caixa Beneficente repassou à Unasp aproximadamente R$ 8,625 milhões. A polícia investiga ainda a compra de imóveis em nome de ‘laranjas’.

Presidente da Caixa Beneficente, o tenente reformado Jorge Lobão repassava à Unasp mensalmente R$ 260 mil, em média, para custear benefícios de morte ou invalidez, e cerca de R$ 115 mil para planos de assistência funeral. Lobão informou que rescindiu o contrato com a empresa tão logo foi intimado a depor, há quatro meses.

Ele acusou um policial civil, responsável pela investigação, de ter oferecido uma empresa de funeral, em seu nome, para prestar serviço à Caixa Beneficente. “Vou à Corregedoria denunciar”, afirmou.

Presidente de entidade diz que verba para benefícios está retida

O tenente Jorge Lobão afirma que a instituição acumula 3.200 processos, cerca de 500 em sua gestão. Segundo ele, pelo menos 1.500 benefícios foram pagos desde o início do contrato com a Unasp. A viúva do policial militar Waldeci e outras mães e mulheres de associados, no entanto, ainda não receberam o pagamento.

“Nenhum dinheiro paga a ausência do meu marido, mas era direito dele, por menor que fosse a quantia. Jorge Lobão está enganando as pessoas e tinha gente lá reclamando que não recebia nada há 20 anos. Meu marido se associou em 1985 e ouvi pessoalmente do Lobão que ele não podia pagar porque a instituição não dispunha daquela quantia. Calculo que o valor seja de R$ 10 mil a 12 mil”, disse Maria de Lourdes, que está sem trabalhar por problemas de saúde.

“Temos 3.200 processos em andamento, mas o dinheiro que eu repassei não dava para pagar todo mundo. Ainda tenho R$ 6 milhões retidos nas mãos do governador. Venho com extintor, apagando os incêndios de viúvas que não têm o que comer ou que as luzes foram cortadas por falta de pagamento”, afirmou Lobão.

O DIA ONLINE - RIO

Nenhum comentário:

Postar um comentário