domingo, 1 de novembro de 2009

Especialistas se dividem sobre estratégias de segurança para 2016

Pesquisador da UFF afirma que UPPs são 'lorotas'.
Para sociólogo, polícia tem que ocupar 60% das favelas até 2016.

Carolina Lauriano Do G1, no Rio

Foto: Agência O Globo/Fabiano Rocha

Para especialistas, a imagem do helicóptero abatido por traficantes não chega a prejudicar a cidade (Foto: Agência O Globo/Fabiano Rocha)

Com a visita de uma equipe do Comitê Olímpico Internacional (COI) ao Rio de janeiro no sábado (31), os preparativos da cidade para receber as Olimpíadas de 2016 começam a virar realidade. "Nessa reunião, sugeriram muita tranquilidade e muito esforço no planejamento. Acabou a emoção e agora é pé no chão para que a gente possa realizar os jogos", disse o prefeito Eduardo Paes sobre o encontro.

Entretanto, especialistas em segurança acreditam que o Rio terá um grande desafio para combater a violência, tanto para a Copa em 2014 quanto para os Jogos Olímpicos. Eles se dividem em relação às estratégias a serem adotadas, mas concordam que o episódio do dia 17 de outubro, quando um helicóptero da PM foi abatido por traficantes, não prejudica tanto a imagem cidade.

Para o sociólogo José Augusto Rodrigues, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), tanto o Comitê Olímpico Internacional (COI) quanto a imprensa internacional já estavam cientes, quando acompanharam o Rio durante a campanha para a sede das Olimpíadas, sobre eventuais brigas entre as facções armadas na cidade.

“Essa informação já existia, não chegou a ser uma novidade. Evidente que um helicóptero das forças da ordem, abatido por uma arma de grosso calibre durante uma operação policial, sempre causa um arranhão na imagem da cidade. Mas o abate do helicóptero é que é o centro de gravidade para os outros países”.

O antropólogo Lênin Pires, pesquisador do Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas (Nufep/UFF), concorda que o episódio da derrubada do helicóptero teve mais um efeito simbólico.

“Não é primeira vez que matam policiais. Isso aconteceu outras vezes e em situações espetaculares, com incêndios de ônibus e grupos armados. Só a derrubada do helicóptero é inédita. Daqui até 2016, policiais vão perder a vida, assim como pessoas do crime ou inocentes, infelizmente.

O COI não vai repensar sua estratégia por conta disso”, disse, acrescentando que a única mudança que isso pode refletir nos planos das Olimpíadas é o destino dos recursos que serão mobilizados.

UPPs

O ponto de discórdia entre os estudiosos está em uma iniciativa recente do governo do estado: a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que hoje ocupa cinco favelas da cidade (Chapéu Mangueira, Babilônia e Dona Marta, na Zona Sul; Batam e Cidade de Deus, na Zona Oeste).

Segundo o sociólogo José Augusto Rodrigues, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a estratégia da UPP é uma boa saída.

“O ideal é que até as Olimpíadas pelo menos 60% das comunidades do Rio estejam sob alguma forma de controle da polícia”, estimou Rodrigues, que alerta para a necessidade de verba e de aumento de efetivo para que esse projeto seja implementado até os jogos.

Já o antropólogo da UFF acredita que a medida é marketing da polícia: “Essa ideia de pacificação é como a música do Rappa, que diz ‘paz sem voz não é voz, é medo’. Como você diz que há pacificação se tem ocupação da polícia? A ideia da polícia distribuindo flores e brinquedo nas favelas é lorota. Isso é propaganda que vai render votos”, afirma Pires.

Uma das grandes preocupações é com os traficantes que são expulsos dessas comunidades ocupadas pela polícia e que acabam migrando para outros morros, como aconteceu no dia 17 de outubro.

“Se sabíamos que isso ia acontecer, onde está o serviço de inteligência da polícia?”, questiona o antropólogo.

Reformulação na polícia

Para o cientista político e ex-secretário Nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, a polícia carioca precisa ser reformulada:

“Eu acho que nós vamos ter um grande desafio, mas também uma oportunidade de promover as reformas mais profundas que estão sendo sempre adiadas. Nós vamos ter que refundar as polícias do Rio, a Polícia Civil e a Polícia Militar, em um novo padrão de integração entre elas, com novo padrão salarial e com nova articulação entre as polícias e a sociedade, um novo padrão de relacionamento”, disse Soares.

O acesso dos traficantes às armas de guerra é um dos principais problemas que os estudiosos acreditam que deve ser combatido com urgência. “Combater o tráfico de armas é uma responsabilidade do governo federal”, disse Rodrigues.

Para o pesquisador Lênin Pires o episódio do dia 17 de outubro é “uma oportunidade para se pensar como essas armas entram e por que essas pessoas ficaram soltas, o que esta por trás disso”.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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