quinta-feira, 31 de março de 2011

Escuta revela que Adriano, Mesmo sem carteira, não temia blitz

Gravações da polícia mostram preocupação de parentes e amigos com comportamento exagerado de Adriano no Rio

POR LESLIE LEITÃO

Rio - Logo após o jogador Adriano, 29 anos, conduzir o Flamengo ao seu hexacampeonato brasileiro, em 6 de dezembro de 2009, amigos e parentes do craque comentaram que era hora de ele sair do Brasil. Para alguns, precisava se afastar do Rio; para a mãe, Rosilda, deveria se tratar.

Um primo chegou a dizer que ele estava com ‘o rei na barriga’. As opiniões foram reveladas em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça e obtidas por O DIA. Numa delas, feita pela polícia uma semana após o título, o jogador chegava a debochar de blitz da PM na Barra da Tijuca e ironizar o fato de dirigir sem habilitação.

Adriano no trânsito: 'A minha cara é o quê?'

“Quem sabe é nós! (...). A minha cara é o quê, minha cara? Tá maluco?!”, disse o então camisa 10 da Gávea, agora contratado pelo Corinthians, ao garantir para seu interlocutor que não temia ser parado na blitz. O episódio ocorreu às 16h20 do dia 11 de dezembro de 2009. Segundo a escuta, Adriano se dirigia para um bar da região quando passou pela fiscalização.

Ao perceber que o Imperador estava sem documentos e que, por sorte, não foi parado, o primo, identificado como Vagner, que estava em outro carro, ligou para comentar.

“Passou com o c. na mão. Não tem um papel pra falar que tu é o Adriano, p.”.

As gravações revelam que xingamentos e ironias eram comuns entre Adriano e seus amigos, que durante ligações chamam o craque de ‘pudim de álcool’’.

Três dias mais tarde, o jogador, que estava de férias, deu sequência à comemoração do título rubro-negro. Com base nas escutas, naquela noite, a festa em sua mansão na Barra da Tijuca começou às 22h. Adriano, mesmo após algumas doses, teria insistido em ir de moto para a Penha.

Um amigo teria pedido um táxi e escondido a chave de uma das motos estacionadas na garagem. Mas, conforme a gravação, em vez da moto preta, Adriano teria levado a amarela. Às 4h15 teria deixado a ex-Big Brother Priscila Pires em casa e, em seguida, ido direto para a Vila Cruzeiro. Também teria ligado para o amigo e avisado. “Cheguei bem”. Eram 6h10.

Até a empregada do craque, quando chegou para trabalhar, mostrou-se preocupada ao não ver Adriano em casa. “Ele saiu? De moto?”, perguntava a senhora, em gravação. Vagner respondeu que sim.

As gravações telefônicas revelam ainda uma conversa de um empresário com o primo do jogador. Ambos também se mostram apreensivos com o ritmo de vida do jogador. “É aquilo que tu falou. A dona Rosilda quer que ele fique pra se tratar. Mas ele não vai se tratar, não tem jeito”, disse o empresário.

Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia

Adriano mostra arrogância após passar por blitz | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
“E a minha cara? Minha cara é o que, minha cara?”
Vagner, primo de Adriano, está num carro e o jogador em outro, passando pela Barra, dia 11 de dezembro de 2009. Eles cruzam com uma blitz da PM e Vagner comenta que Adriano está sem habilitação. O Imperador ironiza e diz que a sua cara já é sua carteira.
Vagner — Passou com o c. na mão, hein?!
Adriano — É ruim, é ruim... quem sabe é nós, Vagner... Quem sabe é nós!
Vagner — Passou na britada (blitz) com o c. na mão. Não tem um papel pra falar que tu é o Adriano, p.!
Adriano - E a minha cara? Minha cara é o quê? Minha cara?! Tá maluco
Vagner — Cara de pau que tu é... CARA DE PAU... (zombam) (...) Se fosse parado ia dar hambúrguer pros polícia.

OUTRA CONVERSA

Vagner e um empresário conversam sobre o futuro de Adriano na época.
Vagner — O 171 do Marcos Braz falou que vai dar um aumento pra ele...
Empresário — Mas é aquilo, cara, ele precisa rapar fora. Se ele ficar aqui vai se estragar.
Vagner — Vai mesmo.
Empresário — É aquilo que tu falou: dona Rosilda (nome da mãe do atacante) quer que ele fique pra se tratar, mas ele não vai se tratar... Ele tem que se afastar disso aqui um pouco... Ficar lá...
Empresário — Do jeito que tá, ainda mais agora... campeão, artilheiro...
Vagner — Tá com o rei na barriga.
Empresário — Vai fazer o que quiser no Flamengo.
Vagner — Ainda mais que o Isaías Tinoco (gerente de futebol) dá moral pra ele.
Empresário — A própria Amorim bateu de frente e depois veio: ‘Ah, certas estrelas a gente tem que saber lidar. Tem regalias aqui e lá fora’. Já abriu as pernas!
Vagner — É.
Empresário — Alguém deve ter falado: ‘Com ele funciona assim’. E tu sabe que no final ele mesmo já estava falando ‘não vou, não vou, deixa que eu me viro, liga pro Isaías’. Aí chega na boca do Dunga, que é todo certinho (...) Aí tira ele fora (da Copa), pronto!
Vagner — Marquei com ele de levar ele na praia. Pra dar uma banhada naquela pereba dele...
Empresário — Ainda não melhorou, não?
Vagner — P., melhorar como? O cara não cuida.
Empresário — Tá inflamado?
Vagner — Tá dando secreção.
Empresário — É, então deixa ele de molho lá um pouquinho e passa no hotel.

Ligações monitoradas em investigação sobre tráfico

As ligações de Adriano passaram a ser monitoradas pela polícia, com autorização judicial, a partir de uma investigação feita em cima da quadrilha que domina as favelas Furquim Mendes e Dique.

Os líderes, na época, estavam escondidos dentro da Chatuba, no Complexo da Penha, reduto do atacante. Nas escutas, a polícia descobriu um estranho saque de R$ 60 mil.

Adriano se dizia pressionado a entregar “pros caras” na comunidade. Houve suspeita de que o dinheiro seria para o tráfico. Em depoimento, ele alegou ter doado cestas básicas e o caso foi arquivado.

Processo para suspender habilitação pode ser acelerado

O Detran-RJ não descarta acelerar o processo de suspensão do direito de dirigir do jogador Adriano. Segundo o coordenador de julgamento do departamento, Flávio Horta, isso ajudaria a conscientizar condutores que praticam ilegalidades no trânsito, já que o atleta é homem público e bastante admirado.

Como O DIA revelou na terça-feira, prontuário no Detran mostra que, entre março de 2010 e março de 2011, o atleta descumpriu o Código de Trânsito 26 vezes. Acumuladas, as infrações somariam 124 pontos, bem mais que os 20 necessários para suspender a habilitação por até 12 meses. “A possibilidade de apressar o processo dele vai ser analisada. Sem dúvida seria importante para dar o exemplo”, disse Horta.

Em entrevista ao ‘Fantástico’ no domingo, Adriano admitiu que bebeu no dia 9 de fevereiro, quando foi parado numa blitz da PM na Avenida Ayrton Senna e se recusou a fazer o teste do bafômetro. “Tinha bebido umas cinco, seis cervejas”, disse o atacante, que teve a carteira apreendida mas a pegou de volta cinco dias depois. (Celso Oliveira)

O DIA ONLINE

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