Deputado acusou ministério de selecionar e divulgar informações de seu interesse
Do R7
O governo do Japão encobre acidentes nucleares e oculta os verdadeiros custos e problemas associados à operação das usinas atômicas, disse um deputado japonês a diplomatas dos Estados Unidos, de acordo com documentos secretos vazados pelo site WikiLeaks.
A revelação - feita pelo jornal britânico The Guardian - vem no momento em que as autoridades japonesas lutam para controlar a crise na usina nuclear de Fukushima, severamente afetada pelo terremoto e pelo tsunami da última sexta-feira (11).
Segundo o documento, datado de 2008, o deputado Taro Kono acusou o Ministério da Economia, do Comércio e da Indústria - responsável pelas usinas nucleares - de ocultar acidentes nas instalações do país.
- Os ministros estavam presos em suas práticas, enquanto oficiais herdaram políticas de pessoas mais experientes do que eles, que não podiam ser desafiadas.
O relatório, divulgado pelo WikiLeaks e assinado pelo embaixador dos Estados Unidos, Thomas Schieffer, apresenta as preocupações de Kono diante do suposto risco de um grande acidente nuclear no Japão.
- [Kono] citou a intensa atividade sísmica e os extensos lençóis freáticos, e questionou se havia um lugar realmente seguro para armazenar dejetos nucleares na "terra dos vulcões".
Kono era, na ocasião, uma das figuras mais importantes da política japonesa. Em 2008, seu partido, o Liberal-Democrata, governava o país.
O documento diz que o deputado - apesar de não citar episódios específicos em que o Ministério da Economia, do Comércio e da Indústria teria ocultado acidentes - afirma que a pasta seleciona e divulga aos parlamentares apenas informações que são do seu interesse.
As especulações sobre a transparência das autoridades japonesas quanto ao acidente de Fukushima ganharam força nos últimos dias. John Large, um engenheiro nuclear britânico independente encarregado de fazer um relatório da situação para a ONG GreenPeace, disse ao Guardian que o acidente pode ser pior do que parece.
- As ações do governo japonês são totalmente contrárias às suas palavras. Eles retiraram 180 mil pessoas [dos arredores da usina], mas dizem que não há radiação. Eles com certeza têm as medições, mas nós não ficamos sabendo de nada. Foi a mesma coisa com Chernobyl, quando disseram que o problema era pequeno, mas a real extensão só foi conhecida depois.
Para o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, o risco nuclear no Japão é "extremamente elevado". O diplomata disse, em entrevista à rádio Europe 1, que conversou diretamente com o ministro das Relações Exteriores japonês.
- A situação é extremamente grave. À noite, falei com o ministro japonês [das Relações Exteriores, Takeaki Matsumoto], que nos repassou todas as informações de que dispõe. O risco é extremamente elevado.
Juppé disse, ainda, que estava "muito preocupado" com a situação e ofereceu ajuda aos japoneses.
- Os japoneses devem nos dizer como podemos ajudar.
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