Proposta é usar farda esverdeada, inspirada em americanos no Iraque.
A cor preta, no entanto, poderá ser usada em operações noturnas.
Alícia Uchôa Do G1 RJ
Bope propõe uso de uniforme semelhante aos dos
soldados americanos no Afeganistão (Foto: AP)
Com termômetros marcando até 40º C neste verão, os homens de preto do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio podem ganhar uniformes mais leves e de cores mais claras. O projeto, ao qual o G1 teve acesso, é do subcomandante da unidade, tenente-coronel Fábio Souza.
Uma pesquisa realizada com policiais do Bope mostrou que 65,79% dos agentes acham o uniforme atual inadequado para ações em favelas cariocas. Destes, 48% reclamaram do calor da roupa de trabalho e 28% ressaltaram que a farda preta torna os agentes "alvos fáceis".
Preto é identificado 2 vezes mais rápido
Pensando nisso, foram feitos testes na Favela Tavares Bastos, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, onde fica a sede do batalhão. Neles, foi possível comprovar a reclamação dos agentes. Em comparação com o uniforme camuflado proposto, os policiais de vestimentas pretas foram identificados duas vezes mais rápido do que os de roupas claras.
A ideia é usar o padrão digitalizado, inspirado no modelo norte-americano, que é mais leve, feito de algodão e poliamida, semelhante aos usados no Iraque e no Afeganistão. O tecido, segundo a polícia, é ainda resistente a chamas e seca mais rápido.
Policiais durante a megaoperação na Vila Cruzeiro
em novembro (Foto: Felipe Dana/AP)
Calor vira sacrifício para policiais
O uso do uniforme preto, diz o documento, “se torna um sacrifício extra com possíveis casos reais de desidratação e intermação" e, "em indivíduos com condições de estresse máximo por calor, o mecanismo de transpiração torna-se ineficiente”.
O relatório do tenente-coronel lembra ainda que, o estado do Rio, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), fica exposto ao sol, em média, 173 horas por mês. “A cor preta absorve a luz solar, não a refletindo completamente e, com isso, retém calor”, diz o documento.
Preto continua para ação noturna
O projeto, ainda sem data certa para entrar em vigor, propõe a mudança apenas para operações policiais em morros e favelas durante o dia.
A pesquisa apresentada no relatório afirma, no entanto, que 96,05% dos policiais acham que o uniforme preto é eficiente para operações de resgate e retomada de reféns. Por isso e pelos testes, a unidade propõe que o uso do preto seja mantido em ações noturnas e de resgate.
Policial do Bope em frente a blindado da Marinha,
durante operação na Vila Cruzeiro
(Foto: Felipe Dana/AP)
Policiais em ação carregam 25 kg
Segundo a polícia, o uniforme atual usado pelas equipes que atuam nas ocupações em favelas pesa cerca de 25 kg. A farda inclui colete tático preto (com local para colocar carregador de armas, rádio e kit de primeiros socorros), colete balístico, joelheiras, cotoveleiras, cantil, coturno, capacete, cinto de guarnição e coldre, todos pretos, além de uma pistola como segunda arma, e um fuzil como armamento principal.
Desde a criação do Bope, os agentes da unidade usavam farda azul marinho, sem coletes balísticos nem capacetes, apenas com um suspensório, cinto de guarnição, um boné e par de coturnos. A cor preta foi implantada em 1992, inspirada na tropa inglesa conhecida como SAS (Special Air Service), mas, na época, não foi realizado nenhum tipo de validação científica.
A cor preta era vista como arma psicológica e tinha por objetivo principal intimidar o inimigo.
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