Fernando Torres
O inquérito da Operação Guilhotina, que prendeu 20 PMs e dez policiais civis, levantou suspeitas sobre a morte do segundo sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho, de 28 anos.
Supostamente, ele teria reagido à prisão e morrido em confronto com policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), em 30 de junho do ano passado, mas a Polícia Federal encontrou indícios de que o segundo sargento foi morto numa espécie de “acerto de contas” por não ter quitado uma dívida gerada em uma compra de armas desviadas por policiais do Rio de Janeiro.
O Sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho foi morto numa ação do Dcod, num motel na Taquara / Foto: Fabio Rossi / O Globo/1.7.2010
Apontado como traficante internacional de armas, Volber foi morto num motel em Jacarepaguá. Na época, o caso foi registrado como auto de resistência, ou seja, morte em confronto, mas seria, de acordo com a PF, um homicídio. Depois de comprar fuzis desviados de operações, Volber não teria pago aos sócios de farda. A cobrança chegou à bala.
O registro de ocorrência número 902-00110/2010, de 1º de julho de 2010, ao qual o EXTRA teve acesso, foi lavrado por dois policiais: o sargento PM Ivan Jorge Evangelista de Araújo, adido na Dcod, e o inspetor Robson Rodrigues Alves da Costa, da mesma unidade operacional.
Evangelista foi preso na Guilhotina e apontado pela PF como integrante do grupo dos PMs Floriano Jorge Evangelista de Araújo, o Xexa, Wellington Pereira Araújo e Carlos Eduardo Nepomuceno Santos, o Edu ou Nepô, indiciados por terem, segundo a PF, furtado pertecentes de traficantes na ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010 — entre os quais, sete pares de tênis.
No dia em que Volber foi morto, os policiais teriam levado todo o dinheiro e armas com maior poder de fogo — fuzis e metralhadoras — que estavam com ele.
Na delegacia, foram apresentadas duas pistolas Glock 380, registradas em nome do militar, dois carregadores, dois cartuchos e dois estojos de munição. Os policiais alegaram que “ao chegarem no local, foram alvo de disparos de arma de fogo, sendo o agressor atingido, vindo a falecer no hospital”.
Titular da Delegacia de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas da Polícia Federal, o delegado Allan Dias afirmou que o caso de Volber, por se tratar de um homicídio, será compartilhado com a Corregedoria Geral Unificada. Um processo administrativo vai ser instaurado e os policiais envolvidos podem ser expulsos.
De acordo com um dossiê elaborado pela 2 Companhia de Inteligência do Exército (CiaIntlg), Volber Roberto Filho era fornecedor de armas (matuto) para traficantes da facção que domina a Favela da Rocinha e milicianos da Região Metropolitana.
Ele fazia a ponte entre policiais e bandidos, estabelecendo o que o relatório chama de "jogo duplo". À Justiça, ele admitiu que começou a se relacionar com criminosos quando conheceu Paulo César Silva dos Santos, o Linho, morto em 2003.
Informes da 2 CiaIntlg também apontam Volber como um dos executores do plano para a instalação dos explosivos no carro do contraventor Rogério de Andrade. No atentado, ocorrido em 8 de abril de 2010, na Barra, morreu o filho do bicheiro.
Lotado no 21º Batalhão Logístico do Exército (BLog), em Deodoro, ainda fazia segurança para a milícia de Realengo e Magalhães Bastos, na Zona Oeste.
Volber tinha ligação com o matuto Valdenício Antunes Barbosa, o Val ou João Grandão, que foi preso em 1 de novembro de 2007 e responde a processo, na 40ª Vara Criminal da Capital, por tráfico de armas e formação de quadrilha.
O dossiê revela que o segundo sargento "desviava armamento do BLog e chegou a ter 30 fuzis em sua casa, em Padre Miguel, onde fazia manutenção e revenda".
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