domingo, 25 de outubro de 2009

Mário Sérgio fala sobre as dificuldades da polícia

Camilo Coelho – Extra Online

Em entrevista ao reporte Camilo Coelho do Extra Online o Cel Mário Sérgio falou sobre os ultimos acontecimentos.

Para superar o momento difícil, só mesmo muito trabalho. É exatamente isso que o comandante da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, está fazendo.

Desde sábado, o coronel passa 20h do dia trabalhando. Sobram apenas 4h para descansar. O dia começa cedo, às 7h30m, e as últimas ligações se encerram apenas às 3h30m.

Em uma entrevista exclusiva concedida ao EXTRA na última quarta-feira, Mário Sérgio seguiu a linha adotada pelo secretario de Segurança, José Mariano Beltrame, criticou muito a participação da União no combate ao crime organizado, pediu mudanças na lei, como o fim de benefícios para traficantes que forem presos utilizando fuzis, e também classificou o último sábado como o 11 de setembro do Rio.

Procurado na sexta-feira para falar sobre o envolvimento de policiais no caso da morte do coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva, e a exoneração do relações públicas da corporação, o coronel disse, através da assessoria de imprensa, que estava sem tempo.

Como o senhor analisa o que está acontecendo desde sábado?

Eu concordo plenamente quando o secretario de Segurança diz que esse evento, de certa forma, acaba nos remetendo ao 11 de setembro. Até hoje nós não tínhamos tido uma ação do narcotráfico que tivesse causado um impacto tão violento na sociedade. As ações do narcotráfico no enfrentamento com as forças policiais, que muitas vezes causam baixas nos nossos homens e em pessoas inocentes, ainda não havia despertado a sociedade para o fato de que essas forças, que vem se dedicando ao comércio das drogas, do enfrentamento entre si e do enfrentamento das forças policiais, exercem todo o tipo de despotismo possível e submissão das populações nas áreas onde elas se estabeleceram. Mas dessa vez a população do Rio, de todo o Brasil, a mídia, os formadores de opinião, todos puderam ver com clareza que os criminosos não respeitam nenhum tipo de regra. Eles foram capazes de atirar em uma aeronave que estava sobrevoando casas e escolas. Esse helicóptero poderia ter caído em cima de uma escola, poderia ter causado dezenas de mortes de pessoas inocentes.

Então seria a hora de uma mudança?

Acho que esse é um fato que deve definitivamente trazer para as discussões questões o que há muito tempo nós estamos falando. Da necessidade de um endurecimento da lei quanto aos criminosos. Não podemos conceber que traficantes que portam fuzis possam ser beneficiados com a progressão da pena. São armas de guerra que eles importam para enfrentamento dos seus inimigos de facção, mas, principalmente, das forças policiais, para atacar o estado sem nenhum respeito a qualquer regra. Então, nós temos que discutir essas questões com outros agentes, outros atores, que tenham responsabilidade sobre mudanças na legislação, para entender que não dá para ser assim. Não é possível considerar um criminoso que tira a vida de policiais, que tira a vida de pessoas inocentes, como destinatário dos benefícios da lei. É preciso endurecer isso. Ele não pode ter o mesmo direito de visita íntima que tenha um outro criminoso, aquele que cometeu crimes que qualquer outro ser humano poderia cometer, crimes muitas vezes levados pelas emoções. Esses não, eles são frios na maldade, eles são perspicazes em tudo, na submissão do outro, das populações, eles estão imersos em uma ideologia de ódio, uma subcultura de ódio, nessa identidade coletiva que faz com que eles se unam em lugares diferentes para atacar os seus ou apenas amedrontar a população, como eles fizeram agora, amedrontando a população do morro São João.

Aconteceram mesmo as ameaças de traficante na madrugada de terça-feira?

Eles não estavam nem amedrontando o traficante inimigo, mas sim a população, fazendo as pessoas descerem apavoradas. A sociedade precisa acordar para o mau que é o narcotráfico, a sociedade precisa acordar para o fato de que o narcotraficante está imerso em uma subcultura em que se destaca a ideologia de facção, essa identidade abstrata, mas plasmada no ódio, na destruição. Isso tudo tem que ser discutido, é preciso se desfraudar bandeiras, pedidos de paz, mas para cobrar do poder legislativo, no mais alto nível da nação, uma mudança na legislação.

O senhor fala então de mudar as leis em Brasília, é isso?

A população quer e os políticos que não entenderem isso vão acabar perdendo seu espaço. Não se trata de revanche ou vingança, mas de despertamento enquanto é tempo. Os órgão de segurança do Rio vêm realizando um trabalho brilhante, o problema é que estamos fazendo isso sozinhos. Temos feito isso trabalhando na ponta, mas é preciso interditar a chegada dos problemas. E quem vai interditar a chegada dos problemas é a União. Os problemas que passarem nós cuidamos aqui. Temos a política de redução do delito e do crime de rua, que estamos conseguindo no asfalto. Temos a política de recuperação do território outrora na mão do narcotráfico, com as unidades de polícia pacificadora. Mas a solução tem sido nossa e só.

O que mais precisa mudar?

Está na hora de a União entrar pesado nas fronteiras, mas pesado mesmo, interditando de todas as maneiras possíveis. Está na hora do próprio Governo Federal cobrar mudanças do poder legislativo, mudanças na lei, dizendo que aquele que porta o fuzil não terá progressão na sua pena, não terá direito à visita íntima. Porque esse, ele está disposto a cometer o mau no seu maior grau. Esse é um homem que não se dispõe a recuperação, salvo excessões, mas muito pequenas verdadeiramente. Ele encontrou gozo no mau. Não me incomodo em momento algum de pensar que estou trazendo a questão para um ponto de vista maniqueísta. Nessa hora, é absolutamente fácil identificar bem e mau. O que nós temos é um mau terrível feito pelas facções que se espalharam. Do outro lado estão as forças do Estado e a polícia. Porque a sociedade compreendeu agora, neste 11 de setembro, o inferno que é o problema das drogas e as guerras que ela vem promovendo ao longo desses anos.

Existe esperança de mudança?

Vamos reverter tudo isso, vamos sozinhos ou com a União cumprindo o seu papel, mas nós vamos reverter tudo isso. Já estávamos revertendo, essa foi uma questão muito pontual, em um espaço restrito da cidade, mas emblemática pela queda do helicóptero e a exibição deles de que não estão nem aí. Não se preocuparam se o helicóptero caísse na cabeça de crianças, de velhos, de pessoas inocentes. Eles não estão nem aí se vão amedrontar trabalhadores que estavam chegando em suas casas, obrigando-os a descer o morro e atravessar a rua com carros em alta velocidade. Eles são muito cruéis.

Como foi para o senhor ver aquela imagem do helicóptero caindo em chamas?

Essa é uma imagem que está se repetindo na minha cabeça o tempo inteiro, não consigo parar de pensar. Hoje (quarta-feira) eu estive no GAM (Grupamento Aéreo Marítimo), fui conversar com os policiais. Pensei que encontraria eles de cabeça baixa. Ao contrário, estão com uma moral altíssima, prontos para continuar realizando os seus serviços mais difíceis. Claro que estão muito tristes, com uma profunda dor, carregando uma dor que se transforma em vontade de luta, que se potencializa como uma vontade de luta. Eles não estão de moral baixa, pelo contrário estão motivados para seguir em frente. Alguns inclusive se dispuseram a na folga compor frações a pé para incursionar nos locais onde possamos ter informações da localização de traficantes ligados a essa facção que invadiu.

O que esperar daqui pra frente?

Todo o nosso foco agora é pegar os traficantes do grupo invasor, aqueles que derrubaram o helicóptero. É claro que isso não minimiza, em momento algum, o papel cruel e tiranico das outras facções. Elas também são alvos das nossas ações policiais. Mas neste momento temos que priorizar aqueles que tiveram essa ação tão nefasta e causaram um mau à sociedade tão grande. É uma cena que causa uma dor na sociedade. Nós estamos há muito tempo sangrando e suando nas ruas do Rio, mas nada até hoje foi tão impactante. Vi pessoas abraçando policiais nas ruas, pedindo que a gente vá atrás dos traficantes. Não sei quanto tempo vai demorar, mas é isso que estamos fazendo.

Caso de Polícia - Extra Online

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