quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um em cada 5 policiais diz já ter sofrido tortura

Pesquisa do Ministério da Justiça aponta insatisfação com abusos de hierarquia

Rio - Um em cada cinco policiais afirma já ter sido vítima de algum tipo de tortura dentro das próprias instituições, aponta pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça. Uma parcela ainda maior dos agentes em todo o País — 72,2% — afirma que há mais rigor com questões internas, como falhas disciplinares leves, do que com fatores que afetam, diretamente, o serviço prestado à população.

Foto: Ernesto Carriço / Agência O DIA

Pressão por mudanças: policiais ouvidos em pesquisa reclamam de abusos de hierarquia

A tortura considerada na pesquisa envolve agressões físicas e humilhações. Para a cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CeSec) da Universidade Cândido Mendes e responsável pelo estudo, bombeiros e militares são os que mais enfrentam o poder da hierarquia excessiva. “Para os entrevistados, a hierarquia provoca desrespeito e injustiças profissionais”, analisa.

A vontade de mudanças nas polícias e o grau de insatisfação, bem como a revelação de 960 mulheres (16%) que afirmaram já terem sofrido algum tipo de assédio, surpreenderam a pesquisadora. “Consideramos este índice de assédio muito alto”, avalia ela.

A pesquisa, feita entre abril e maio, entrevistou 64.130 profissionais da área de segurança de todo País, das polícias Civil, Militar, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Municipal e agentes penitenciários. As opiniões apontaram ainda que 70% dos policiais defendem mudanças nas instituições. Uma delas diz respeito à unificação das policiais civis e militares. Pelo estudo, 42,1% dos praças entrevistados preferem que a nova polícia seja civil. “Só no Brasil há esse modelo esquizofrênico de ter duas polícias. Essa pesquisa é o primeiro passo para um grande debate. Uma virada de página”, conclui Sílvia Ramos.

Para a maioria dos entrevistados, o mau desempenho está relacionado aos baixos salários e à falta de efetivo. Em terceiro lugar, ficou a falta de formação adequada ao policial, apontada pelos entrevistados. “Eles são críticos. Muito mais do que imaginávamos. Outro dado relevante é o de que 25% estão em busca de formação superior”, ressalta Sílvia Ramos.

O estudo entrevistou os participantes com a aplicação de questionários virtuais. Os pesquisadores, ligados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram contratados pelo Ministério da Justiça, que não interferiu no trabalho. Quem quiser ter todos os dados da pesquisa, basta acessar o site do Ministério da Justiça: www.mj.gov.br.

Hoje à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça, Tarso Genro, abrem a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, em Brasília. Pelo menos três mil pessoas, entre elas 90 representantes do Rio, participam do evento. O grupo vai analisar o Caderno de Propostas que trata de assuntos como a prevenção social da violência e valorização dos profissionais de segurança.

Governador entrega ao Interior 203 carros

A partir de sábado, o governador Sérgio Cabral vai percorrer as regiões dos Lagos, Costa Verde e Serrana para entregar mais 203 viaturas aos batalhões locais. A entrega vai totalizar 1.703 veículos terceirizados distribuídos aos batalhões no estado.

A maior parte da frota será destinada a unidade de Cabo Frio: 62 viaturas. O 33º BPM (Angra dos Reis) vai receber 39 carros, o 11º BPM (Nova Friburgo) ganhará 42 veículos, e o 26º BPM (Petrópolis) terá 40 patrulhas.

Os carros, modelos Blazer e Gol, são equipados com GPS, que permite sua localização em tempo real. Movidas a gás, as viaturas vão permitir economia de R$ 1 milhão por mês em combustível.

Projeto prevê câmeras em todas as viaturas

Toda atividade policial poderá passar a ser monitorada por câmeras, como antecipou terça-feira a coluna ‘Informe do DIA’. A Assembleia Legislativa do Rio aprovou projeto que determina instalação dos equipamentos nas novas viaturas que vierem a ser adquiridas pelo estado. Na atual frota, a câmeras seriam implantadas gradativamente.

Os equipamentos serão integrados a sistema central e as imagens e áudios gerados serão armazenados por dois anos. Para virar lei, a medida terá que ser sancionada pelo governador Sérgio Cabral.
“É um projeto importante para a população e para os policiais. O uso de câmeras está se difundido e as principais polícias do mundo já têm esse equipamento em suas viaturas”, defendeu o autor do projeto, o deputado Gilberto Palmares (PT).

Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Marcelo Freixo (PSOL) concorda com a iniciativa. “As polícias que mais avançaram no mundo foram as que mais investiram em capacitação, treinamento adequado, remuneração e controle”. disse. Flávio Bolsonaro (PP) concorda. “Isso vai proteger o policial de denúncias infundadas”, afirmou.

USO DAS IMAGENS

PRIORIDADES

Para o deputado estadual Flávio Bolsonaro, o monitoramento, apesar de benéfico, não é prioridade. “É importante. Mas, antes, o estado tem que aumentar os salários dos policiais”, adverte.

EPISÓDIOS POLÊMICOS

A gravação das atividades policiais, na PM, evitaria episódios em que a imagem de toda a corporação fica comprometida, como no caso do desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro.

Os PMs afirmam que a jovem desapareceu em um acidente de trânsito, na Barra da Tijuca. Mas a perícia levou o Ministério Público a denunciar os quatro policiais militares envolvidos por homicídio, fraude processual e ocultação de cadáver.

BLITZES

As imagens evitariam casos de extorsões em blitzes, principalmente à noite.

O DIA ONLINE - RIO

Um comentário:

  1. Em relação as viaturas que o Sérgio Cabral entregou para as regiões, são Gols G5, mais novos do que os do Rio e Blazer. Queria saber quais os setores da Polícia (como MIKE, GEAT II, LIMA e etc)

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