Primeira reunião do grupo aconteceu na Fiocruz nesta sexta (21).
“Precisamos passar da lógica da guerra à lógica da paz”, diz FHC.
Liana Leite Especial para o G1, no Rio
Comissão sobre Drogas se reuniu na Fiocruz nesta sexta (21) (Foto: Liana Leite/G1)
A primeira reunião da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia aconteceu, nesta sexta-feira (21), na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, Zona Norte do Rio.
O principal objetivo do grupo é debater a questão das drogas com a sociedade civil e deslocar o foco da repressão para o tratamento dos usuários. Entre os convidados estavam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a atriz Lílian Cabral e o jornalista e escritor Zuenir Ventura.
Para o presidente do Viva Rio e um dos incentivadores da comissão, Rubem César Fernandes, o grande desafio do novo grupo de trabalho é mudar a mentalidade da sociedade e incentivar que o pequeno usuário seja tratado como paciente. “Queremos que o trabalho da polícia seja focado apenas nos grandes criminosos”, explicou.
Réus primários
Uma pesquisa encomendada às universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Brasília (UnB) revela que a maior parte dos condenados por tráfico de drogas é formada por réus primários, que foram pegos sozinhos e com pouca quantidade de entorpecente.
“Temos centros que estudam drogas. É fundamental reverter o quadro que se apresenta atualmente no país”, afirmou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.
Para contribuir com suas experiências como membro da Comissão Latino Americana sobre Drogas e Democracia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um dos primeiros convidados a discursar.
Para ele, a guerra às drogas, da forma como é encarada atualmente, está fracassando. “Precisamos passar da lógica da guerra para a lógica da paz, mas discriminalizar não significa liberar”, acredita.
Segundo FHC, Portugal é um exemplo que deu certo. "Desde 2001, o país discriminalizou o uso de drogas e nem por isso o consumo aumentou”, conta.
Brasil é importante consumidor
O ex-presidente afirma ainda que o Brasil passou de simples “corredor de drogas” para importante consumidor. “Não dá para acabar com a droga, mas nossa meta é reduzir o consumo”, diz, acrescentando que imaginar um mundo sem drogas é como imaginar um mundo sem sexo.
Para ele, a propaganda é fundamental. “No caso da Aids, por exemplo, conseguimos através da publicidade quebrar o tabu do uso de camisinha num país religioso como o Brasil.
O mesmo aconteceu com o tabaco, que agora é visto como algo prejudicial à saúde. Esse é um caminho possível para mudar a cultura da população em relação ao uso de drogas”, acredita o ex-presidente.
“Estamos tocando num assunto que ainda é um tabu . O problema afeta a democracia, já que deixa a população descrente no poder público”, completa FHC.
A atriz Lílian Cabral concorda com o ex-presidente. Para ela, é fundamental mudar a mentalidade da sociedade civil. “Estamos discutindo hoje o que há bastante tempo já deveria ter sido discutido”, acredita a atriz que aceitou o convite como cidadã e mãe de adolescentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário