sexta-feira, 5 de março de 2010

‘Achei que ele ia matar o delegado’, diz policial feito refém por colega

duardo Maia conta que nunca havia tido problemas com Uerler Leonardo.
Um dia após o susto, ele participa de solenidade de policiais premiados.

Alícia Uchôa Do G1, no Rio

 

“Achei que ele ia matar o delegado”, contou o chefe de investigações da 39ª DP (Pavuna), Eduardo Maia, um dia depois de ter sido feito refém pelo inspetor de polícia Uerler Leonardo.
Segundo Maia, depois de ouvir uma discussão entre Uerler e o delegado Ricardo Viana, ele entrou na sala para apaziguar os ânimos e, ao ver o inspetor pegar a arma para ameaçar o delegado, levou-o para o banheiro, que fica nos fundos do cômodo.

“Num primeiro momento, eu não era refém. Levei ele pro banheiro e fechei a porta. Aí ele não me deixou mais sair. Disse que os outros iam matá-lo e ficava repetindo isso.

Eu não conseguia pensar em nada. Só ficava estudando os movimentos dele e que reação eu deveria ter em cada hipótese”, lembra o policial, que mal conseguiu dormir à noite, após o episódio.

Nesta sexta-feira (5), Eduardo Maia participa de solenidade no Teatro João Caetano, no Centro do Rio, em que policiais recebem uma premiação da chefia de Polícia Civil.

Piores momentos

De acordo com Maia, Uerler estava muito inquieto, balançava o corpo de um lado para o outro e volta e meia trincava os dentes, fazendo um grunhido. “Nessas horas ele levantava e apontava a arma pra mim. Foram os piores momentos”, desabafa o chefe de investigações.

Ele lembra ainda que recebeu inúmeras ligações em seu celular enquanto era feito refém, mas atendia e dizia que não podia falar. “Minhas filhas, minha mãe, todo mundo desesperado, vendo a notícia na internet e na TV.

A sorte é que meu irmão, que estava na delegacia, falava com elas o tempo todo também”, disse.

Motivo da briga

A briga foi motivada pelo descontentamento de Uerler com a escala de plantão na delegacia, para onde havia sido transferido há menos de um mês. O inspetor fora escalado para fazer o plantão na delegacia, sem sair para investigações nas ruas. Na última quarta-feira (3), segundo policiais da 39ª DP, ele havia faltado o trabalho.

“Ele não entendia que, para ficar na delegacia, é preciso ser tão qualificado quanto para ir pra rua. Já tinha trabalhado com ele antes, em outra unidade, e nunca havíamos tido problemas. Ele parecia uma pessoa normal”, contou Maia.

Negociação

A confusão durou quase seis horas. O diretor de polícia da capital, Ronaldo Oliveira, e o diretor do departamento de polícia especializada, Rodrigo Oliveira, foram ao local para ajudar na negociação e convencer o policial a se entregar.

Segundo a polícia, o inspetor já havia sido transferido algumas vezes de delegacias e por isso estaria nervoso e insatisfeito. Ele agora deve passar por exames psicológicos .

Para se entregar, Uerler exigiu a presença de uma equipe de TV e pediu que não saísse algemado. As exigências foram cumpridas.

Posições oficiais

Questionado sobre o ocorrido, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, classificou o episódio de absurdo. “Pessoas assim não estão preparadas para trabalhar na corporação”, disse.
Segundo o governador Sérgio Cabral, Uerler deve ser acompanhado pelo estado.

“Foi um caso isolado, que pode acontecer numa corporação com 11 mil funcionários. Os policiais estão de parabéns, porque o trataram com o respeito e carinho necessários e conduziram bem a situação.

Cabe à chefia de Polícia Civil tomar as medidas cabíveis, sejam elas administrativas ou de ajuda psicológica e de saúde”, afirmou.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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