segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mais agentes do que presos

presídio federal de campo grande

Bruno Rohde

Sob o sol escaldante da capital de Mato Grosso do Sul, cerca de 250 homens de coturno, calça e camiseta preta tomam conta do Presídio Federal de Segurança Máxima de Campo Grande. Bandeira do Brasil na manga direita e pistola ou fuzil a tiracolo, os agentes penitenciários são os responsáveis pela segurança e organização da unidade, que conta com 136 detentos. Atualmente a penitenciária conta ainda com o reforço de 31 homens da Força Nacional, já que uma parte dos agentes foi deslocada temporariamente para suprir a falta de efetivo no Presídio Federal de Porto Velho. Os policiais da Força Nacional e os agentes têm uma relação amigável, mas não costumam se misturar. Reflexo da greve de 2008, quando a Força Nacional foi chamada para cuidar da segurança da unidade, enquanto os agentes estavam paralisados.

Por precaução, os agentes penitenciários pedem para serem identificados apenas por um de seus nomes. Fã de Diogo Nogueira e O Rappa, o carioca Maia, de 32 anos, tem orgulho de seu trabalho, mas ainda não se adaptou às diferenças musicais entre Rio e Mato Grosso do Sul:

— Isso é o pior daqui. No rádio, só dá sertanejo.

Os agentes trabalham num esquema de plantão que dura 24 horas e folgam por 72 horas. Começam a carreira ganhando R$ 4 mil. Durante o curso de formação, que leva pouco mais de dois meses, eles aprendem a atirar, têm noções de direito penal, direitos humanos e tratamento penitenciário. A maioria dos agentes está na faixa dos vinte ou trinta anos. Apesar do concurso só exigir nível médio, vários possuem graduação em alguma faculdade. No presídio de Campo Grande, eles formam uma federação de sotaques. Dezesseis estados das cinco regiões do país estão representados aqui.

Vindo de São Paulo, o agente Flávio, de 32 anos, já trabalhou no sistema carcerário de seu estado, mas não guarda muita saudade desse período.

— Aquilo é quase um jardim de infância para os presos. Aqui, a segurança é levada a sério — comenta.

PRESÍDIO JÁ FOI ALVO DE TENTATIVA DE INVASÃO

Bruno RohdeO crucifixo na parede e a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente antigo da mãe, são os amuletos de Arcelino Vieira Damasceno. Delegado da Polícia Federal com cerca de 30 operações no currículo, ele é o diretor do Presídio Federal de Campo Grande. Está na função desde janeiro de 2008. Apesar da responsabilidade de comandar uma unidade que abriga parte dos criminosos mais perigosos do Brasil, tenta levar uma vida normal. Quando está fora da penitenciária acompanha os jogos do Flamengo e vê filmes de ação. O último que assistiu e gostou foi "Rota Comando", que fala da divisão de elite da polícia de São Paulo.

Desde que assumiu a gestão do presídio, Arcelino Damasceno já enfrentou momentos delicados. Em abril do ano passado, um grupo tentou invadir o presídio atirando e com o apoio de um helicóptero. Até hoje, não ficou claro quem eles pretendiam resgatar. Pouco tempo depois, surgiu a denúncia de que as visitas íntimas dos detentos estavam sendo gravadas ilegalmente.

— Isso nunca existiu. Foi um boato para desestabilizar a unidade — afrima.

Segundo Arcelino, a informação teria sido passada por agentes penitenciários com interesse de prejudicar a gestão do presídio. Quanto às denúncias de que estariam ocorrendo gravações das conversas dos advogados com os detentos o diretor rebate dizendo que isso só é feito com autorização judicial.

EX-DETENTA VIROU COZINHEIRA

Bruno Rohde

Ramona Frety, de 40 anos, não esquece seu número de cadastro no Presídio Federal de Campo Grande: 114. Ela está na unidade desde o início de seu funcionamento. Ex-detenta, Ramona não entrou na penitenciária para cumprir pena, mas para participar de um programa de reinserção social. Começou trabalhando como copeira, junto aos aproximadamente cem profissionais terceirizados do presídio que cuidam da limpeza, alimentação e administração.

Um dia, um colega de trabalho experimentou a marmita que ela trazia para o almoço. Gostou e pediu para Ramona cozinhar para ele. Aos poucos, a fama dos dotes culinários dela foi crescendo e hoje Ramona trabalha como cozinheira dos funcionários dos presídio. A refeição que ela prepara custa R$ 7 e dá direito a uma sobremesa. Ramona vende uma média de trinta pratos por dia. Com o trabalho na unidade, comprou um Fiat Uno usado, contratou uma pessoa como auxiliar e reconquistou a dignidade.

Presa ao tentar transportar droga num carro de Mato Grosso do Sul para São Paulo, ela cumpriu pena no Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi. Hoje tem uma nova vida. Começa a cozinhar às 6h e vai diariamente ao Presídio Federal. As grades da unidade, ironicamente, são o símbolo da liberdade reconquistada por Ramona:

— Minha vida é outra. Quando a gente quer mudar, consegue.

Caso de Polícia - Extra Online

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