sábado, 12 de setembro de 2009

'Jamais poderia perdoá-lo' - Pai de cabo do Bope revolta-se com atirador

Pai de cabo do Bope, morto por PM que fazia ‘bico’ de segurança, revolta-se com atirador e critica preparo do policial

POR PAULA SARAPU, RIO DE JANEIRO

Rio - 'Tive forças para dar voz de prisão ao homem que matou meu filhote com um tiro no peito, mas hoje estou sem chão. O policial se ajoelhou na minha frente e disse ‘perdão, padrinho, matei seu filho’. Mas jamais poderia perdoá-lo.

Ele fez uma abordagem porca e usou linguajar de bandido. Um policial não deveria agir como ele’. Este foi o desabafo do subtenente reformado Paulo José Pinheiro, durante o enterro do filho, o cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Leslie Luís Pinheiro, 36 anos, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Mais de 300 pessoas acompanharam o cortejo, que teve homenagem dos ‘caveiras’ com salva de tiros.

Foto: Severino Silva / Agência O DIA

Emocionados com a morte do cabo Leslie, colegas do Bope despediram-se do amigo com salva de tiros

Leslie foi morto pelo colega de corporação, o cabo Leando Marques Pereira, que fazia ‘bico’ na escolta a uma van que transportava cigarros. O crime aconteceu na tarde de quinta-feira, na Rua Cilon Cunha Brum, em Santa Cruz. De folga, o cabo do Bope havia parado numa loja de ferragens para comprar parafuso, quando foi abordado por Leandro.

O pai de Leslie criticou a abordagem ao filho: “É um direito dele querer arrumar dinheiro por fora, fazendo bico, mas tinha que saber usar o poder de polícia. Se fosse um bandido, prendia e levava para a delegacia. Se fosse um cidadão de bem, pedia desculpas e seguia em frente. Este homem é completamente despreparado. Pegou meu filho de surpresa dizendo ‘perdeu, perdeu’. Isso é coisa de marginal”.

A mãe do PM passou mal e precisou de atendimento médico. Emocionados, colegas do Bope despediram-se de Leslie cantando o hino dos ‘caveiras’. Um sobrinho da vítima, de 11 anos, usava seu quepe.

O soldado do BPVE André Luís Moreira da Silva desabafou: “Fizemos juntos o curso para o Bope, mas levei um tiro num assalto e não pude fazer as últimas etapas. Leslie era para os amigos de farda uma referência de combatente e honestidade”.

Polícia ouve versões contraditórias

O cabo Leandro escoltava a van com o agente penitenciário aposentado Rubens de Souza Lisboa. À 36ª DP (Santa Cruz), o agente afirmou que Leslie sacou sua pistola ao ser abordado e que ela foi encontrada engatilhada. Uma testemunha, porém, disse que o cabo do Bope não usou sua pistola. Ele teria levantado as mãos como se estivesse rendido e, mesmo assim, levado um tiro. Caído de joelhos, só teve tempo de dizer que também era policial.

Rubens e Leandro trabalham para empresa de segurança, que presta serviço a uma fábrica de cigarros, com a função de de levantar locais perigosos onde carros de entregas são assaltado. Segundo ele, a dupla teria recebido informações de que o EcoSport de Leslie estava seguindo o carro da empresa. O cabo Leandro foi indiciado por homicídio doloso.

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