sábado, 5 de setembro de 2009

Cem policiais militares trabalham em laboratório da PM produzindo xampus, sabonetes e cremes

Marco Antônio Martins - Extra

Linha de produtos de beleza da Polícia Militar tem xampu de jaborandi e creme hidratante de aveia - foto: Marcelo Theobald / Extra

RIO - Quem entrou na manhã da sexta-feira passada no Laboratório Industrial Farmacêutico (LIF), em São Gonçalo, encontrou prateleiras vazias: "Faz falta para quem precisa", avisa o atendente. A fabricação de medicamentos está parada e mesmo assim, a Polícia Militar mantém uma estrutura de cerca de cem homens para acompanhar a produção de cosméticos como xampus ou cremes hidratantes

O efetivo da burocracia equivale ao número de policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro Dona Marta, em Botafogo. Exatamente no momento em que o comandante-geral, o coronel Mário Sergio Duarte abre licitação para comprar um carro blindado e assim, segundo a sua assessoria, liberar cerca de 20 PMs da sua segurança para as ruas.

Faltam PMs nas ruas

Em meio à falta de PMs nas ruas, esses policiais estão destinados ao LIF para apoiar farmacêuticos na produção de material de beleza. São soldados ou cabos, por exemplo, que trabalham no rancho ou no almoxarifado. Documento encaminhado pela corporação à Assembleia Legislativa do Rio, este ano, informa que há seis PMs, sendo três sargentos, como motoristas.

- É um desvio usar policiais em funções que não sejam a atividade fim da PM. Uma das causas do descontrole da seguranca no Rio é a má administração da polícia - afirma o deputado federal Rogério Lisboa, do DEM.

Instituição diz que gasto é só com salários

Em nota, a Polícia Militar informou que gasta apenas com o salário dos policiais lotados no LIF. Mas a instituição não citou os valores destinados às contas de água, luz, e até os impostos que deixam de ser recolhidos com a venda de medicamentos.

Na mesma nota, a PM garante haver supervisões sobre a venda que só acontece com nota fiscal. Não é o que constatou o EXTRA nas quatro farmácias visitadas. Em nenhuma delas, a compra também foi limitada.

Burocracia

Segundo a PM, o efetivo destinado ao LIF é de 55 policiais. O número de 100 agentes foi passado ao governador Sérgio Cabral. Independente do número são PMs presos à burocracia.

- Podem ser 20, 50 ou 100. Não importa. A distribuição de policiais é deficiente. Fechar quartel não resolve. Tem que mexer na escala. Nenhum PM trabalha 24 horas - afirma a antropóloga Ana Paula Miranda, professora da UFF.

Nota fiscal que é bom, nada

Diante das prateleiras vazias, o atendente garante: "A previsão é de que na quinta-feira cheguem remédios". Destinada a atender PMs e seus parentes, o LIF deixou de fabricar e passou a comprar medicamentos genéricos em laboratórios particulares para revendê-los a preços abaixo do mercado.

O próprio atendente faz coro com policiais, revelando a pressão feita por laboratórios para interromper a produção dos remédios. Todos vendidos sem nota fiscal, o que dificulta o controle.

Compra ilimitada

O EXTRA esteve nas farmácias do LIF, do Hospital da PM, no Estácio e em Niterói, e do 16º BPM (Olaria). Lá, dos 38 produtos da lista de medicamentos faltavam 27. Os atendentes não deram nota fiscal e a compra foi ilimitada.

Apenas no hospital em Niterói, o atendente anotou os valores com uma caneta atrás da lista de medicamentos fornecida no local.

Colaborou

Márcio Luiz Rosa

Extra Online

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