terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Em Teresópolis, homem congela corpo de filho para desacelerar decomposição

Rio - O marceneiro Gevanildo Lopes da Cunha, 33 anos, de Santa Rita, em Teresópolis, disse nesta terça-feira ter ajudado um amigo a guardar o corpo do próprio filho, vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, dentro de uma geladeira - mesmo desligada com a falta de luz.

Segundo ele, a decisão foi tomada para desacelerar a decomposição do corpo, enquanto as equipes de busca não conseguiam chegar para recolher. "Foi para o cachorro não comer. Depois, o helicóptero levou e ele foi enterrado", afirmou.

Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Cenário de devastação em Teresópolis | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Além de prejudicar a ajuda, a enorme dificuldade de chegar à localidade de Santa Rita, acessível apenas por uma trilha que pode demorar 5 horas - dependendo do preparo de quem a percorre -, tem fomentado o surgimento de incontáveis boatos relacionados à catástrofe que matou mais de 670 pessoas.

Um deles seria o de que uma família teria enterrado entes queridos num quintal. Outro é que, nos primeiros dias, com a carência de donativos, pessoas estariam abatendo seus animais de estimação (gatos e cachorros) para assar e comer.

O que é considerado fato por moradores da região é que há saques em todas as localidades atingidas pela enchente. As autoridades do município negam e tratam a possibilidade como boato, mas foi instalado na noite de segunda-feira um sistema de iluminação artificial provisório no Caleme.

O jardineiro Amauri de Souza Iate, 38 anos, pedia a presença permanente de forças policiais naquela região. "Tem que policiar a região do Holiday, da Fazenda Alpina, de Santa Rita e de Arriera", afirmou.

As trilhas que levam a Santa Rita são ocupadas por gente que não mede esforços em chegar. Ex-jogador de futebol júnior do clube Friburguense, da cidade vizinha de Nova Friburgo, Leonan de Pádua, 17 anos, disse encontrar na religião a motivação para ajudar uma comunidade carente isolada. Ele procurava de todas as maneiras atravessar um trecho de grande dificuldade pelo barro. Acabou desistindo.

"Queríamos saber qual a maior carência, agora sabemos que é vacinas em geral, principalmente tétano", disse. Ele era acompanhado pelo veterinário e também voluntário ligado a uma igreja, Nei Lopes, que pedia ajuda para carregar uma moto por sobre um desbarrancamento remanescente após uma semana da grande queda d'água.

"Chego lá de qualquer jeito. Não pense que eu gosto de fazer trilha, não. Não é hobby, eu tenho horror de fazer trilha!", gritou. Instantes depois, voltou para o mesmo lugar com uma enfermeira na garupa da moto. "Olha a vacina chegando aí!", anunciava.

O DIA ONLINE - RIO

Nenhum comentário:

Postar um comentário