segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vídeo mostra crianças sendo arrastadas pela correnteza na serra

Meninas de 10 a 17 anos se salvaram segurando em árvores.
Imagens foram feitas no dia seguinte do início das chuvas, dia 12 de janeiro.

Tássia Thum e Luciana de Oliveira Do G1 RJ

 

As chuvas que atingiram as cidades da Região Serrana do Rio a partir da noite do dia 11 de janeiro revelaram histórias surpreendentes de resgates e sobreviventes. No dia 12, em Bom Jardim, as meninas Laura, Luisa e Gabriela ficaram cerca de duas horas abraçadas a coqueiros, aguardando o resgate dos bombeiros depois que o barco pelo qual foram tiradas de uma casa alagada virou.

Mesmo sem saber nadar, elas enfrentaram a correnteza em busca de abrigo e conseguiram se salvar. A estudante Manuelen Brito Melengate registrou a cena e postou o vídeo na internet (veja acima). A leitora Tania Fernandes Cardoso avisou pelo Fale Conosco do G1 sobre o vídeo.

Nas imagens é possível ouvir os gritos e o choro desolado da mãe de Gabriela. A criança de 10 anos estava na casa das amigas, uma das mais altas da Rua Humberto Bérgamo, no bairro Campo Belo. O local é próximo do Rio Grande, que transbordou. Os pais a deixaram na casa vizinha, acreditando que lá a água não chegaria. Contrariando as expectativas, a água alcançou o segundo andar da residência, onde estavam as meninas. Ao redor, as casas ficaram submersas, apenas com os telhados para fora.

O barco sem motor de um vizinho foi o transporte usado por bombeiros para resgatar as irmãs Laura e Luisa e a amiga Gabriela. O alívio das mães que assistiam ao resgate se transformou em desespero – a embarcação virou e as estudantes foram arrastadas pela correnteza.

O círculo mostra as meninas sendo arrastadas pela correnteza no bairro Campo Belo, em Bom JardimNo detalhe, meninas sendo arrastadas pela correnteza em Bom Jardim (Foto: Reprodução)

Maristela, mãe de Laura e Luisa Bocayuva, de 17 e 11 anos, respectivamente, conta que a filha mais velha estava sem colete, e para escapar da correnteza, a adolescente ficou agarrada a um coqueiro no jardim da casa. Luisa, que segundo a mãe nunca viu o mar, nadou até achar um local seguro. Gabriela também se protegeu, abraçando uma árvore.

“Eu fiquei desesperada, chorei, gritei, pedi a Deus que não levasse elas embora. Foi uma cena pavorosa. O meu pai, de 72 anos, que também assistiu a tudo, quase morreu. Moro há 19 anos nessa rua e nunca vi coisa parecida”, diz Maristela.

Mãe procurou refúgio em sótão
A mãe de Laura e Luisa também estava na casa alagada, junto com o avô das meninas. Ela fala que os bombeiros deram prioridade às crianças e avisaram que depois fariam o resgate dos adultos. Com o nível da água aumentando, Maristela procurou refúgio no sótão. O pai das duas meninas estava viajando e só assistiu ao resgate emocionante das filhas pela internet.

“O meu marido ficou desesperado. A água invadiu a nossa casa, mas perdemos mesmo só os pertences, a estrutura não foi comprometida. Mas como o bairro está sem luz e água estamos abrigados na casa de amigos e parentes. Ainda não caímos muito na real, mas acho que minhas filhas estão bem diante de tudo que aconteceu”, revela a mãe.

Manuelen de Brito

Da varanda da casa dos sogros, Manuelen filmou
resgate de meninas (Foto: Luciana de Oliveira/G1)

Geladeira no telhado

No Campo Belo, entre a Rua Humberto Bérgamo e a Avenida Walter Vendas Rodrigues, diversas casas, a maioria com dois andares, ficaram submersas ou com água até o telhado. O G1 visitou o local 10 dias depois: ainda havia muita lama e destruição. Uma geladeira arrastada durante a enchente estava no telhado de uma das casas. Piscinas viraram depósito de água barrenta. Aos poucos, moradores começam a limpeza para saber o que restou.

Manuelen, que filmou o resgate das meninas, teve a casa toda coberta pela água. "Ficou só a antena para fora", conta. Ela se refugiou na casa dos sogros, mais alta, e da varanda filmou e fotografou a enchente na avenida e na rua de trás, onde moram Laura e Luísa. "A água subiu muito rápido", conta a estudante. Carros que estavam estacionados na rua foram tomados.

G1 - Chuvas no RJ

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