Prefeitura diz que 2 foram presos suspeitos de desviar doações para venda.
Prefeitura divulgou telefones para receber denúncias.
Tássia Thum Do G1 RJ, em Teresópolis
Ginásio poliesportivo é um dos maiores locais de
distribuição de donativos (Foto: Tássia Thum/G1)
As doações para os desabrigados na tragédia causada pela chuva na Região Serrana do Rio lotaram galpões, abrigos e ginásios poliesportivos. Diante do fácil acesso a roupas, comidas, água potável e itens de higiene começaram a surgir casos de desvio de donativos nas cidades.
A Secretaria de Segurança de Teresópolis afirmou que duas pessoas já foram presas acusadas de praticar o crime no município. No ginásio poliesportivo Pedrão, principal ponto de distribuição das doações, os voluntários estão atentos para reprimir a prática ilícita.
Roupas e tênis
O aposentado João de Oliveira Campos, de 68 anos, é um dos coordenadores voluntários do Pedrão. Ele conta que já viu pessoas tentando furtar, principalmente roupas e tênis, do local. Segundo o aposentado, uma das táticas adotadas pelos criminosos é a de se passar por voluntário na organização dos donativos no ginásio.
Voluntários estão atentos para evitar o desvio de
donativos (Foto: Tássia Thum/G1)
Para evitar o crime, João passou a ficar de olhos atentos e ensinou seu grupo de voluntários a perceber quando há pessoas com o intuito de desviar as doações.
“No início, quando tudo estava uma bagunça e tinha muita gente ainda morando no Pedrão, eu vi um grupo de sete jovens, que não eram de áreas atingidas pela chuva, recolhendo várias sacolas com roupas. Quando eu percebi, essas pessoas estavam com o crachá de voluntário, então eu tive que me exaltar e pedi que eles não voltassem mais. É muito injusto tirar aquilo que as pessoas estão necessitando”, diz o aposentado.
Voluntário viaja 32 horas até Teresópolis
O analista de controle Eberson Costa enfrentou 32 horas de viagem de Roraima a Teresópolis, especialmente para trabalhar como voluntário. Ele afirma que resolveu ir à serra ajudar as vítimas da chuva, após perder a esposa e o filho de 2 anos em um deslizamento de terra provocado pelo temporal em Blumenau, Santa Catarina. O episódio aconteceu em 2008.
Eberson virou voluntário após perder esposa e filho
na tragédia provocada pela chuva em Blumenau
(Foto: Tássia Thum/G1)
Eberson está ajudando na distribuição de donativos em Teresópolis há uma semana. Ele conta que durante o período, já presenciou algumas pessoas indo ao Pedrão por repetidas vezes para buscar colchonetes.
“A pessoa diz que mora com quatro pessoas, aí vem aqui e leva seis colchonetes, depois no dia seguinte chega aqui para buscar mais colchonetes de novo. Agora, tento gravar a fisionomia das pessoas e saber o que elas buscaram nas visitas anteriores”.
A estudante Camila Gonçalves também faz parte do time de voluntários no Pedrão. Ela conta que já desmascarou uma “colega” de trabalho, que tentou desviar quatro sacolas de roupas.
“Nós começamos a perceber que ela só ficava num canto separando roupas, aí depois vimos que ela saiu por três dias seguidos com sacolas. Na quarta vez nós seguimos ela, aí não teve mais jeito, a farsa foi descoberta e ela não teve outra saída a não ser devolver as peças”, relata.
A guia da prefeitura especifica o material e a
quantidade de pessoas que solicitaram a doação
(Foto: Tássia Thum/G1)
Pedido de donativos
Antes de recolher os donativos, as pessoas atingidas pela chuva precisam requerer uma guia na Secretaria de Assistência Social solicitando os itens necessários à família. Além disso, elas precisam informar o endereço e o número de parentes que dividem a residência.
Os coordenadores voluntários argumentam que a guia não é digitalizada e que assim, a prefeitura de Teresópolis não consegue controlar o número de vezes que o indivíduo foi ao local receber os donativos.
Prefeitura recebe denúncias
O secretário de Segurança Pública de Teresópolis, Laet Moutinho, afirma que não é possível burocratizar o acesso aos donativos diante da crise. De acordo com ele, as autoridades presumem a honestidade das pessoas que recorrem aos abrigos e aos pontos de distribuição.
Vítima da chuva recolhe roupas no Pedrão, em
Teresópolis (Foto: Tássia Thum/G1)
Moutinho diz ainda que a prefeitura já recebeu muitas denúncias de desvio de donativos. Segundo o secretário, as informações foram checadas, mas não foram comprovadas.
“Nós só conseguimos comprovar dois casos. Uma foi de uma falsa delegada que tentou abastecer um caminhão com botijões de gás, e a outra aconteceu esta semana, quando uma senhora foi flagrada por um PM do Bope vendendo fraldas que ela tinha recolhido nas doações”, enumera.
Crime com até 2 anos de prisão
O secretário esclarece que o recolhimento de donativos por pessoas não necessitadas é crime e pode ser configurado como estelionato, apropriação indébita e furto. Nesses casos, segundo Moutinho, a pena pode chegar a dois anos de prisão.
“Por exemplo, se a pessoa for moradora de um bairro X, que não foi afetado pela chuva e mentir, dizendo que morava no bairro Y que ficou destruído, ela está mentindo para tirar vantagens, logo isso é crime”, conta.
No entanto, ele afirma que não configura crime o estoque de donativos por igrejas, assim como o ato de negar a distribuição de donativos em locais que não sejam controlados pelo Poder Público.
“Muitas pessoas ligaram reclamando que a igreja de tal lugar está abarrotada de alimentos e que não quis doar para as pessoas. Nesse caso, a instituição é autônoma e pode decidir para quem e quando doar. O que não pode acontecer é a doação em busca de benefício próprio, como por políticos e candidatos, a doação em troca de favores e o material doado ser usado para revenda.
Agora, faço questão de esclarecer que no Pedrão, que é controlado pela prefeitura, a distribuição não pode ser negada, a não ser que haja a suspeita de vantagem ilícita por parte de quem está solicitando o material”, explica Laet Moutinho.
Telefones para denúncia
A Secretaria de Segurança Pública de Teresópolis disponibilizou alguns números de telefone para receber denúncias de desvio de doações.
As informações podem ser repassadas pelo (21) 2742-4704 / 2742-9321 / 2743-0155 / 2742-7351.
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