sábado, 15 de janeiro de 2011

Histórias de sobreviventes que são um alento ao drama

Família levada pela enxurrada se reencontra e comemora ‘milagre’ de estarem vivos

Rio - Em meio ao cenário desolador em que se transformaram as cidades da Região Serrana do Rio atingidas pela enxurrada da última semana, histórias de vitória na luta pela sobrevivência emocionam. São também um alento e dão força para quem fica e ajuda nos resgates de corpos.

Agarrada aos galhos de um pequeno limoeiro, a família da professora de dança Giliane da Silva Pacheco, 28 anos, se manteve unida e escapou da morte por milagre. Ela, o marido, Márcio da Silva Pereira, 28, e a filha do casal, Giovanna, 8, foram arrastados por metros pela enxurrada que devastou a região central do distrito de Vieira, a 60 km do Centro de Teresópolis.

Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Giliane, a filha e o marido: família se salvou agarrando-se ao limoeiro do quintal | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Ao retornarem ao local onde viviam, na sexta-feira, encontraram a casa destruída. O limoeiro que os salvou da morte permanecia de pé. “Sei que foi a mão de Deus que nos segurou”, disse Giliane.

O drama, porém, não foi fácil de ser superado. Assim que a água invadiu a casa da família, Giliane pulou o muro para tentar chegar ao telhado com a filha no colo, mas acabou derrubada por uma tromba d’água. “Acabamos arrastadas pela força da correnteza. Agarrei a Giovanna ao máximo, mas uma geladeira bateu em mim e a perdi na enchente. A partir desse momento, parei de lutar. Não queria viver sem ela”, diz.

Giliane recorda que ao ser arrastada acabou parando debaixo de um carro e chegou a beber água suja e gasolina. Num determinado momento, voltou a ouvir os gritos de socorro da filha. “Mãe, estou aqui”, dizia a menina, que estava presa a uma árvore. “Consegui reconhecê-la pela luz do celular. Ela tentou iluminar a região para que eu me salvasse”, relembrou.

Ao reencontrar a filha, a preocupação passou a ser o paradeiro do marido. Márcio tinha sido levado pela água. Depois de muito esforço, conseguiu tirar as roupas e a bota e nadou por 100 m contra a corrente ao encontro da família.

A menina nada sofreu. Giliane quebrou o pé, e Márcio teve alguns arranhões. Ao reencontrarem o pequeno limoeiro, fizeram planos. “Vamos reconstruir tudo o que perdemos e viver, daqui para a frente, ainda mais unidos e com muito amor”, disse o pai.

Vidas salvas por um triz

Da casa do caminhoneiro William Rosa de Oliveira, de 19 anos, em Imbuí, Teresópolis, só sobrou a estrutura. A água invadiu o imóvel e chegou a meio metro do teto, destruindo o que havia pela frente. Para salvar a avó, que sofreu um derrame e não se movimenta, ele e a mãe passaram quase duas horas erguendo a cama para a idosa não morrer afogada.

“A gente não sabe nadar e estava com água pelo pescoço. Mantivemos a cama boiando até a água baixar um pouco. Aí, quebramos a janela e escapamos”, relembrou. Ontem, ele a família passaram o dia todo tentando salvar os pertences que conseguiam de dentro do imóvel.

“Perdemos a casa e o trabalho, já que o caminhão que dirijo e a mercearia do meu avô foram completamente destruídos. Mas pelo menos nossas vidas estão intactas”, declarou ele, aliviado.
Para Hélio Rodrigues, morador do mesmo bairro, a marca mais impactante da tragédia foi o horror vindo dos gritos de um morro vizinho, que desabou com a força das águas.

“As pessoas gritavam por socorro, desesperadas. Foi uma coisa horrível. Eu mesmo fiquei muito mal porque achei que tivesse perdido um amigo. Ele conseguiu salvar duas meninas, mas ficou soterrado durante oito horas, até ser salvo pelos bombeiros. É uma tragédia que jamais vai sair da lembrança de Teresópolis”, concluiu Hélio, emocionado.

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